Temer deveria criar coragem e demitir o ministro da Saúde no rastro do escândalo do medicamento chinês

(ABr)

Denunciado com exclusividade pelo UCHO.INFO em 17 de janeiro passado, o escândalo da compra do medicamento L-asparaginase, usado no tratamento de Leucemia Linfoblástica Aguda (LLA), tipo de câncer que ataca predominantemente jovens e adolescentes, continuam repercutindo de forma negativa e provocando a indignação de profissionais médicos e farmacêuticos que atuam no setor.

O medicamento adquirido pelo Ministério da Saúde de um laboratório chinês, através de outro do Uruguai, não tem eficácia comprovada nem certificado de origem biológica – é um medicamento de essência química, não produzido a partir de celular humanas, como acontece com os usados anteriormente.

Em suma, o que o Ministério da Saúde tenta fazer é transformar 4 mil jovens brasileiros, que sofrem da doença, em cobaias do laboratório chinês, apenas porque o preço é muito menor do que o concorrente produzido por laboratório alemão. Ou seja, o governo está cumprindo tabela, sem se preocupar com a eficácia e os efeitos colaterais do medicamento. Aliás, já estão sendo investigados casos de pacientes que apresentaram choque anafilático após o uso da L-asparaginase chinesa.

Na primeira matéria sobre o tema, o UCHO.INFO afirmou que durante as negociações um funcionário do ministério, durante reunião, disse sem qualquer constrangimento: “O que vale é o preço, as crianças que morram”.

A rápida habilitação, sem cumprir as exigências previstas em lei, do laboratório uruguaio, o qual não tem sede no país vizinho e no Brasil está registrado em um escritório de contabilidade, sugere que o objetivo da operação era criar um quadro semelhante ao do Labogen, laboratório-fantasma que tinha como sócio o doleiro Alberto Youssef e seria utilizado como lavanderia do dinheiro imundo do Petrolão.

Após a denúncia feita pelo UCHO.INFO, o editor foi ameaçado por pessoas interessadas no negócio criminoso, mas autoridades policiais já estão investigando a autora das ameaças, que utilizou um aplicativo de mensagens para fazê-las. A Polícia Federal também investigará o obscuro negócio envolvendo o governo de Michel Temer, além de uma eventual CPI no Congresso Nacional.

O escândalo é marcado por tamanha ousadia, que o ministro da Saúde, Ricardo Barros (PP-PR), se recusa a tratar do assunto com a imprensa. Limitou-se a divulgar, por meio de sua assessoria, um comunicado em que destaca que preza pela “ética” e “transparência”.

Ricardo Barros falando em “ética” é deboche explícito, caso não seja espetáculo de humor em lupanar à beira da estrada. Fosse o presidente da República corajoso e estivesse preocupado com a saúde dos brasileiros, o ministro já teria sido demitido no vácuo do escândalo da L-asparaginase chinesa.


O ministro que fala em ética e transparência

Ricardo Barros, então prefeito de Maringá, foi condenado em 1990 por fraude na venda de coletores e compactadores de lixo que seriam vendidos. Para avaliar o preço de venda dos equipamentos, Barros criou uma comissão, sendo um dos três integrantes acabou sendo o comprador. Traduzindo para o velho idioma dessa barafunda chamada Brasil, o bem público foi vendido por um preço escolhido pelo comprador.

Em 2011, Ricardo Barros, à época secretário de Indústria e Comércio do Paraná, foi flagrado em conversas telefônicas em que sugeriu a Leopoldo Fiewski, então secretario municipal de Saneamento de Maringá – Silvio Barro, irmão de Ricardo, era o prefeito à época –, a simulação encontro de para negociar acordo entre as duas agências de comunicação que participavam de processo licitatório para a publicidade da administração municipal. Na ocasião, o contrato era de R$ 7,5 milhões.

Na conversa com Fiewski, o agora ministro da Saúde afirmou: “era pra ser filha única”, “não gosto de amador”, “eu queria que você promovesse uma conversa dos dois [concorrentes]” e “aí quem sabe fazemos uma solução salomônica aí”.

Para o Ministério Público do Paraná, Ricardo Barros atuou para direcionar a licitação em favor da Meta Publicidade, de Maringá, contra a Trade Comunicação, de Curitiba. Ao final da concorrência, a Meta, que desde 2005 tinha contrato com a prefeitura e já havia prestado serviço a campanhas eleitorais de Silvio Barros, sagrou-se vencedora. A Trade não recorreu da decisão, mesmo tendo esse direito. O que permite concluir que a tal “solução salomônica” acabou acontecendo.

Em outubro de 2015, o ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF), negou pedido para arquivar o inquérito sobre a licitação em Maringá. Em sua decisão, Fux destacou que não havia motivos para o arquivamento do caso, pois as investigações realizadas até então não comprovaram a inexistência de irregularidades na licitação.

“Verifica-se que, ao menos numa análise prefacial, há indícios que demandam esclarecimentos através das diligências já em curso e a serem realizadas, conforme esclarecimentos do Ministério Público Federal. Assim, o trancamento do feito revelar-se-ia precipitado, ante a imprescindibilidade de esgotar os meios de investigação indicados pelos órgãos incumbidos da persecução penal”, escreveu Fux.

Para completar esse currículo, que está mais para folha corrida, Ricardo Barros foi tesoureiro nacional do PP, um dos partidos mais encrencados na Operação Lava-Jato.

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