Analisar a política brasileira é um considerável desafio e exige pelo menos dois requisitos: nivelar todos por baixo e não cobrar coerência dos políticos. Só assim é possível chegar a um entendimento minimamente razoável.
Quando o processo de impeachment de Dilma Rousseff já tinha musculatura e avançava na direção do desfecho, os “camaradas” (leia-se petistas e integrantes da esquerda raivosa), cientes da derrocada, lançaram ao vento a cantilena do golpe, como se cumprir o que determina a legislação vigente fosse crime. A partir de então, a palavra “golpista” foi pronunciada milhões de vezes em todos os cantos do País, até porque os petistas precisavam desse discurso vitimista para salvar um partido que já foi considerado organização criminosa.
No respeitado dicionário Houaiss, da língua portuguesa, o vernáculo “golpista” tem a seguinte definição: “que ou aquele que dá golpe (no sentido de ‘manobra desleal’ e ‘golpe de Estado’) ou golpes”. Tomando por base o que disponibiliza o Houaiss, o PT e seus quejandos entendem que os novos ocupantes do poder chegaram lá na esteira de uma manobra desleal ou de um golpe de Estado. O que não é verdade.
De igual modo, aquele que se junta a golpistas – ou vive na órbita dos mesmos – deve ser considerado no mínimo como tal. E é exatamente nos subterrâneos do poder que surge a porção golpista dos integrantes do PT. Se o governo de Michel Temer é golpista, com quer fazer acreditar a esquerda colérica, continuar fazendo parte do mesmo é uma atitude abjeta, que boa parte da opinião pública simplesmente ignora.
Enquanto os “companheiros” insistem em protestar nas ruas e nas redes sociais contra o atual governo, como se o PT fosse o panteão da moralidade universal, os petistas de alta patente continuam “mamando” na máquina federal.
Muito estranhamente, desde a chegada de Michel Temer ao principal gabinete do Palácio do Planalto poucos petistas foram defenestrados da máquina federal. Na verdade, continuam ocupando cargos em toda a estrutura do governo, ignorando discurso enfadonho entoado pela massa de manobra ignara que mantém o partido.
Um dos exemplos mais absurdos dessa incoerência flagrante estava na usina binacional de Itaipu, cuja porção brasileira teve como diretor-geral, até 13 de março de 2017, o petista Jorge Samek, que chegou ao cargo em janeiro de 2003 por indicação do “companheiro” Lula. Ao longo desses dez meses, período em que o termo “golpista” ecoou em todos os quadrantes verde-louros, Samek sequer sentiu-se incomodado, assim como o seu partido.
O mesmo acontece em vários ministérios, onde várias diretorias são escandalosamente dominadas por petistas, especialmente as que podem proporcionar algum tipo de vantagem aos adeptos do mantra “governo golpista”. Ou seja, no caso em questão prevalece o dito popular “farinha pouca, meu pirão primeiro”.
Em dado ministério, contemplado com uma das maiores fatias do orçamento federal, companheiros indicados por políticos petistas continuam dando ordens e fazendo a farra, com a devida anuência de pessoas presas na Operação Lava-Jato.
Contudo, causa espécie o fato de o presidente Michel Temer ainda não ter ordenado uma faxina completa na máquina federal, livrando-se do maior número possível de “camaradas”, os quais ajudaram a levar o Brasil à ruína economia e moral.
Considerando que a política nacional assemelha-se a um bataclã, não será surpresa se a permanência desses esquerdistas nos cargos ditos de confiança (não concursados) faça parte de um acordo espúrio entre as partes. Até porque, durante anos a fio sentaram-se à mesa para discutir os rumos da corrupção no País. Enfim, quem de fato é o golpista nessa epopeia tupiniquim?