Estratégia petista para o depoimento de Mantega ao TSE é “tiro no pé” e deve complicar Lula e Dilma

O Partido dos Trabalhadores está a viver um momento que mistura mitomania com ciclotimia. Isso porque, além da mentira sistêmica, ora os “companheiros” negam envolvimento no maior escândalo de corrupção de todos os tempos, ora abominam alguns delatores.

É verdade que desde os tempos da repressão a esquerda nacional cultua o silêncio obsequioso, como se o movimento existisse debaixo de regras de organizações mafiosas, mas é preciso reconhecer que atualmente poucos são os que aceitam calados a privação da liberdade, se a situação pode ser revertida na esteira de uma colaboração premiada.

Há dias, o ex-presidente Lula, o comandante do Petrolão, teria feito chegar ao petista Antonio Palocci Filho, preso desde outubro de 2016 em Curitiba, sua insatisfação com a possibilidade de delação por parte do outrora colaborador e ministro da Fazenda. Ao que parece, o desejo de Lula é permanecer em liberdade – se é que isso é possível – enquanto seus comparsas cumprem penas atrás das grades. Se José Dirceu e João Vaccari Neto aceitam essa “ordem”, no melhor estilo Omertà (código de honra de organizações mafiosas do Sul da Itália), não significa que Palocci deve aceitá-la.

Também há dias, Dilma Rousseff, a apeada ex-presidente da República, disparou na direção de Marcelo Odebrecht e João Santana, mas na sequência recuou em suas declarações, pois percebeu o estrago que suas palavras provocariam para si mesma. E Dilma ressurgiu em cena afirmando que gosta muito do marqueteiro responsável por suas duas campanhas eleitorais.

Para tentar minimizar os efeitos colaterais das delações de Odebrecht, Santana e Mônica Mora, o advogado de Dilma conseguiu que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ouvisse o ex-ministro Guido Mantega como testemunha de defesa no caso sobre abuso de poder econômico e político por parte da chapa encabeçada pela petista e que tinha Michel Temer como candidato a vice.

A intenção da defesa da ex-presidente é que Mantega contraponha o depoimento de Marcelo Odebrecht, negando a informação de que a campanha presidencial petista de 2014 foi abastecida com dinheiro de corrupção e através de caixa 2.


Na condição de testemunha, Guido Mantega, que depõe ao TSE nesta quinta-feira (6), assume o compromisso de falar apenas a verdade, sob pena de ser preso caso opte pela mentira. O ex-ministro Mantega pode até querer colocar água na fervura de Dilma, mas será necessária criatividade de sobra para anular os depoimentos de pessoas que ou estão presas e sonham com a liberdade ou estão em liberdade provisória e não querem perdê-la. São os casos de Marcelo Odebrecht e João Santana, respectivamente.

Deixando de lado a criatividade dos defensores dos petistas, não se pode ignorar o conteúdo de algumas delações. Os marqueteiros João Santana e Mônica Moura denunciaram, em acordo de colaboração premiada, movimentação ilegal de dinheiro em todas as campanhas eleitorais que participaram no Brasil e em outros países da América Latina desde 2006, até a prisão da dupla em fevereiro do ano passado.

Santana e Moura relataram às autoridades uma série de irregularidades nas campanhas dos Lula e Dilma, depoimentos que foram ao encontro da delação coletiva da Odebrecht, que contou com de 78 dirigentes e ex-executivos do grupo empresarial baiano. Ou seja, os petistas estão apostando em algo que simplesmente inexiste.

Além das ilegalidades ocorridas nas campanhas petistas (leia-se na de candidatos a governos estaduais e municipais), o casal de marqueteiros revelaram as cometidas nas campanhas de Hugo Chávez e Nicolás Maduro, na Venezuela; Maurício Funes, em El Salvador; Danilo Medina, na República Dominicana; e José Eduardo dos Santos, em Angola. As citadas irregularidades têm relação com os pagamentos pelos serviços prestados aos mencionados candidatos. O que complica sobremaneira a situação de Lula e outros “companheiros” estrelados.

A negociação do acordo de colaboração de João Santana e Mônica Moura foi demorada, pois de chofre o casal concordou em denunciar com base em duas informações pífias: o pagamento de um corte de cabelo de Dilma e a locação de um equipamento eletrônico usado na campanha da então candidata. Diante da recusa da força-tarefa da Lava-Jato, Santana e Moura decidiram soltar a voz e acrescentaram muitas informações às delações do grupo Odebrecht.

A estratégia traçada para o depoimento de Guido Mantega ao TSE mostra que Dilma, assim como Lula faz em outras frentes judiciais, é enrolar ao máximo as investigações, o que retardaria um veredicto final e permitira à petista concorrer nas eleições de 2018. Isso porque a ex-presidente, a exemplo do seu mentor eleitoral, busca o foro privilegiado como forma de escapar de condenações na esfera da Lava-Jato.

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