A estratégia traçada por petistas para o depoimento de Guido Mantega ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), na noite de quinta-feira (6), foi cumprida à risca pelo ex-ministro da Fazenda. Indicado como testemunha de defesa da ex-presidente da República no processo que investiga abuso de poder econômico e político pela chapa Dilma-Temer, Mantega negou pagamentos feitos pela Odebrecht, por meio de caixa 2, para a campanha de Dilma Rousseff em 2014.
Guido Mantega, que chegou a ser preso em um dos desdobramentos da Operação Lava-Jato, mas ficou detido poucas horas por conta das condições em que se deu a prisão, disse no depoimento do TSE que Marcelo Bahia Odebrecht é um “ficcionista”.
Como noticiou o UCHO.INFO na edição de terça-feira, essa estratégia pode se transformar em “tiro no pé”, mesmo que respeitado o direito constitucional do cidadão de não produzir provas contra si. Usar o termo “ficcionista” como forma de dizer que Marcelo Odebrecht mentiu à força-tarefa da Lava-Jato é demonstração de infantilidade ou de desespero, pois o empresário não seria irresponsável a ponto de colocar em risco a liberdade de ex-executivos do grupo empresarial que ratificaram a informação sobre repasse de dinheiro da corrupção ao PT, sendo que parte por meio de caixa 2
De acordo com depoimento de Marcelo Odebrecht, o grupo repassou R$ 150 milhões ao PT, sendo que um montante de R$ 50 milhões serviu para garantir a aprovação da Medida Provisória do Refis, que acabou beneficiando a empreiteira baiana.
Há nessa epopeia criminosa alguns detalhes que avançam na contramão dos discursos petistas. Se por um lado para os “companheiros” o depoimento de Odebrecht é uma obra de ficção, por outro os marqueteiros João Santana e Mônica Moura, cujas delações já foram homologadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF), confirmaram muitas das informações prestadas pelo empreiteiro, assim como agregaram novos detalhes às investigações.
É importante destacar que em acordo de colaboração premiada, o delator assume o compromisso de falar a verdade e fornecer informações passiveis de comprovação, sob o risco de, assim não procedendo, anular a negociação e abrir mão do benefício de redução de pena.
A delação de Marcelo Odebrecht, assim como as dos outros 77 delatores do grupo empresarial, demorou em termos de negociação e demandou muitas horas de diálogo e exaustiva comprovação do que foi relatado às autoridades. Odebrecht, que no início resistiu à tese da delação porque apostava na eficácia dos pedidos de habeas corpus, acabou cedendo ao perceber que passaria boa temporada atrás das grades se não soltasse a voz.
Guido Mantega, por sua vez, não poderia agir de maneira distinta, pois em jogo estaria a sua liberdade, além de comprometer os ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff. A grande questão é que o PT afunda cada vez mais na lama do Petrolão, o que faz com que cresçam as chances de ambos serem condenados pela Justiça.
Considerando que o tempo é o senhor da razão, como prega a sabedoria popular, em breve será possível saber se de fato Marcelo Odebrecht é um “ficcionista” ou Guido Mantega, um mentiroso. E PT saudações!