1º de Maio vira campo de batalha eleitoral na França; violência domina a capital do país

Geralmente, os trabalhadores são o centro das atenções no 1º de Maio em Paris. Contudo, neste ano, apesar dos confrontos entre polícia e manifestantes em Paris, foi o duelo – e a troca de acusações – entre o centrista Emmanuel Macron e a ultrarradical, disfarçada de “boa moça”, Marine Le Pen que marcou a data.

Os franceses voltam às urnas para o segundo turno das eleições presidenciais no próximo domingo (7). E a pesquisa de opinião mais recente mostrou Macron à frente de Le Pen com uma vantagem de 59% a 41% das intenções de voto.

Em busca de cortar a vantagem, Le Pen vem se esforçando, em vários comícios, para retratar Macron como um clone do socialista François Hollande, presidente mais impopular da história da França e para quem o candidato trabalhou como ministro da Economia (2014-2016).

“Macron é só François Hollande querendo ficar e se agarrando ao poder como uma craca”, disse Le Pen, em evento de campanha em Villepinte, um subúrbio no norte da capital.

Emmanuel Macron, por sua vez, tentou pintar a líder do partido Frente Nacional como uma extremista – e não precisou de muito esforço para isso – e prometeu lutar “até o último segundo” contra seu programa e sua ideia do que constitui a democracia e a República Francesa.

Macron e Le Pen têm em comum o fato de se venderem como outsiders. E a campanha na segunda maior economia europeia demonstrou um cansaço dos franceses com a política tradicional, expondo parte do mesmo sentimento de revolta com as elites políticas que levou Donald Trump à presidência dos EUA e os britânicos a votarem pelo Brexit.

Porém, ambos os candidatos têm visões totalmente opostas sobre os papéis da França e da União Europeia – que ficaram ainda mais claras durante os comícios deste 1º de Maio.

“Cadeia da União Europeia”

Marine Le Pen e sua recém-anunciada escolha para o cargo de primeiro-ministro, Nicholas Dupont-Aignan, começaram aparecer ao meio-dia (hora local) em Villepinte, um subúrbio da classe trabalhadora no nordeste de Paris.

As declarações de Dupont-Aignon tiveram tom ameaçador. Ele afirmou que Macron quer manter a França na “cadeia da EU”, enquanto Le Pen promoverá a cooperação entre as nações em projetos específicos.

“Eleger Emmanuel Macron, uma versão júnior, imatura e problemática de François Hollande, significaria trancar definitivamente a França na prisão da EU”, argumentou Dupont-Aignon, repetindo um discurso de Le Pen.

“O que está em jogo neste domingo, o que está em jogo em 2017, é salvar a França”, acrescentou Dupont-Aignon, afirmando que ter Macron na presidência significaria “dizer adeus aos nossos valores, à nossa identidade”.

Ao discursar depois de Dupont-Aignon, Le Pen cumprimentou milhares de adeptos classificando Macron como um candidato da “esquerda caviar” e parte de “uma continuidade mórbida” dentro da política francesa.

“Dizer ‘novo’ quatro vezes seguidas não é suficiente para fazer de você a encarnação da novidade”, ironizou. Le Pen tem procurado se apresentar como a candidata que vem de fora do establishment político e também tenta ativamente conseguir o voto dos operários que votaram no primeiro turno no candidato de extrema esquerda Jean-Luc Melenchon.

Ela se cortejou os eleitores de Melenchon em seu discurso, dizendo que o candidato esquerdista havia sido condenado pela mídia por não dar seu apoio a Macron após o primeiro turno. “É proibido sob pena de excomunhão pedir apoio a um candidato do segundo turno que não seja candidato do sistema”, disse Le Pen.


“Propagadora de mentiras”

Macron começou o dia nas margens do Sena, homenageando Brahim Bourram, um marroquino que se afogou há 22 anos depois de ter sido empurrado no rio por skinheads – grupo que esteve presente no comício de Primeiro de Maio da FN. Na época, o partido era liderado pelo pai de Marine, Jean-Marie Le Pen, mais radical que a filha.

“Eu vou lutar até o último segundo não só contra o seu programa, mas também contra sua ideia do que constitui uma democracia e a República Francesa”, disse Macron, ao lado do filho de Bourram, na beira do Sena.

Macron também negou que Le Pen tenha se distanciado do extremismo de seu pai. “As raízes estão lá, e elas estão muito vivas”, observou.

O comício propriamente dito de Macron começou ao meio-dia perto do complexo de ciência em La Villette. A escolha do local faz parte de uma estratégia para apresentar o candidato como alguém inovador e orientado para o futuro, de que a França precisa para rejuvenescer sua economia.

No evento, ele atacou Marine Le Pen, dizendo que a candidata defende um programa “do protecionismo, do isolacionismo, do nacionalismo”. Ele acusou a adversária de aproveitar a raiva para “propagar mentiras, incitar ódio e divisão”.

Confrontos nas ruas

Os sindicatos também saíram às ruas em suas marchas tradicionais do 1º de Maio, mas a eleição permaneceu como principal tema das mensagens dos sindicalistas. Embora os sindicatos em geral rejeitem Le Pen, eles carecem de unidade política, em parte devido à polêmica proposta de reformas da lei trabalhista de Macron.

As centrais sindicais mais moderadas, como a CFDT e a Unsa, marcharam na manhã de segunda-feira, ao lado de organizações antirracismo e de defesa dos direitos dos homossexuais, em apoio a Macron, tweeting seu apoio ao candidato centrista.

Já os sindicatos mais radicais continuaram se recusando a apoiar Macron. A ex-comunista CGT, que também é a maior central sindical da França, se reuniu na Praça da República para reforçar seu apelo de que “nem um só voto” deveria ser dado a Le Pen.

Na passeata, pelo menos quatro policiais ficaram feridos em confrontos com manifestantes encapuzados. A confusão começou quando a marcha se aproximava da Bastilha. Segundo o ministro francês do Interior, Matthias Fekl, os policiais foram atacados por “dezenas de manifestantes” com coquetéis molotov. A polícia respondeu aos ataques com gás lacrimogêneo.

Jean-Marie Le Pen liderou seu próprio comício em Paris na manhã desta segunda-feira, à frente de uma passeata anual desde a estátua da lendária heroína francesa e ícone da FN Joana D’Arc até a Ópera de Paris. Ele pediu aos franceses que votem em sua filha no segundo turno do domingo. “Ela não é Joana Joana D’Arc”, disse o político, de 88 anos. “Mas ela aceita a mesma missão… a França.” (Com agências internacionais)

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