Escândalo sobre ingerência russa nas eleições dos EUA volta a atormentar Donald Trump

O governo Trump viu na segunda-feira (8) um escândalo supostamente encerrado ganhar nova força com a revelação de que o presidente foi alertado duas vezes no início de sua gestão – uma pelo ex-presidente Barack Obama – sobre a vulnerabilidade de Michael Flynn perante Moscou. Mesmo assim, Donald Trump manteve o assessor no cargo por 24 dias.

General da reserva, Michael Flynn (à direita na foto), que assessorou a campanha presidencial de Donald Trump, é a figura central nas investigações sobre envolvimento russo nas eleições do ano passado e possível relação entre a campanha do republicano e Moscou. Os russos negam repetidamente qualquer envolvimento, o que já era esperado.

Em testemunho perante a Comissão de Justiça do Senado, a jurista Sally Yates afirmou que, com apenas uma semana no cargo de procuradora-geral adjunta, alertou a Casa Branca de que Flynn era o calcanhar de Aquiles da segurança nacional: “estava enganando a opinião pública” e correndo o risco de “ser chantageado” pelo Kremlin, alertou.

Segundo Yates revelou ao conselheiro da Casa Branca Don McGahn em 26 de janeiro, Flynn mentiu para o vice-presidente Mike Pence sobre suas conversas com o embaixador russo nos EUA, Sergej Kisljak. Entre o alerta à Casa Branca e a demissão de Flynn se passaram dezoito dias.

“Acreditávamos que o general Flynn estava comprometido com relação aos russos”, disse Sally Yates na audiência. “Este era um problema não só porque acreditávamos que os russos sabiam disso, mas que eles provavelmente tinham provas dessa informação. E isso criou uma situação comprometedora, uma situação em que o conselheiro de segurança nacional poderia ser chantageado.”

Nomeada para o cargo de procuradora-geral adjunta por Barack Obama, Yates foi demitida em janeiro depois de se opor à decisão de Trump de impedir a entrada nos Estados Unidos de cidadãos de sete países muçulmanos. A medida acabaria bloqueada pelos tribunais.

“A lógica vai dizer para vocês não quererem que o assessor de segurança nacional esteja em uma posição onde os russos tenham vantagem sobre ele”, testemunhou.


Na segunda-feira, testemunhou também o ex-diretor da Inteligência Nacional, James Clapper. Ele apelou ao Senado para “que seja vigilante e tome medidas contra uma ameaça para os alicerces” da democracia americana.

“Os russos agora estão encorajados a continuar com tais atividades tanto aqui como em todo o mundo e a fazê-los com maior intensidade”, disse Clapper, referindo-se a alegações de que a Rússia foi responsável por ataques de hackers e campanhas de desinformação na eleição americana.

Depois da audiência no Senado, Trump insistiu que não há provas de que ele tenha conspirado com Moscou. Em sua conta no Twitter, ele apontou para o testemunho de Clapper, que afirmou que não estava ciente de nenhuma evidência de conluio entre o então candidato presidencial e a Rússia, que a inteligência americana caracterizou como tentativa de influencia a eleição americana em favor de Trump.

Os testemunhos foram dados no mesmo dia em que três ex-assessores de Obama revelaram que o ex-presidente alertou Trump contra a nomeação de Flynnn como conselheiro de Segurança Nacional. De acordo com eles, o ex-presidente fez o alerta no primeiro encontro dele com Trump, logo após a eleição, em 10 de novembro, durante uma conversa sobre possíveis nomes para cargos.

Obama nomeou Flynn em 2012 como chefe da Agência de Inteligência de Defesa (DIA, na sigla em inglês). O general reformado foi demitido dois anos depois. Como conselheiro de segurança nacional, Flynn durou menos tempo ainda. Ele renunciou após apenas 24 dias no cargo, depois que se tornou público que, antes da posse, ele havia falado com o embaixador russo sobre as sanções contra Moscou e que fez declarações falsas sobre o encontro posteriormente. (Com agências internacionais)

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