Lava-Jato: após Bumlai depor no caso do Instituto Lula, defesa do petista pode culpar Marisa Letícia

A defesa do ex-presidente Lula continua firme na empreitada de “vender” à opinião pública a ideia de que o petista é inocente e vítima de perseguição política, mas os depoimentos dos delatores, se interpretados de forma correta, mostram o contrário.

Nesta terça-feira (9), o pecuarista José Carlos Bumlai, em depoimento por videoconferência ao juiz Sérgio Moro, responsável na primeira instância da Justiça Federal pelos processos da Operação Lava-Jato, afirmou que a ex-primeira-dama Marisa Letícia (já falecida) procurou-o e pediu ajuda para comprar um terreno com o intuito de abrigar a sede do Instituto Lula.

Ao magistrado, Bumlai disse que, segundo Marisa Letícia, o objetivo era localizar um terreno para o Instituto, onde seriam guardados os presentes e bens de propriedade de Lula, que o seria também utilizado para atividades culturais, a exemplo do Instituto Fernando Henrique Cardoso. O pecuarista afirmou que a sede do Instituto Lula seria uma espécie de “museu”, como se o responsável pelo período mais corrupto da história brasileira tivesse cabedal para tanto.

José Carlos Bumlai, que depós como testemunha de acusação, declarou que de chofre procurou o então presidente do Grupo Odebrecht, Marcelo Bahia Odebrecht, preso na esteira da Lava Jato desde junho de 2015 e agora um dos mais importantes delatores do Petrolão. Marcelo, segundo o depoente, teria se encarregado de contatar outros empresários para viabilizar a aquisição do terreno.

O pecuarista desistiu de procurar um local para abrigar o Instituto Lula por impossibilidade financeira de adquirir o imóvel. A força-tarefa da Lava-Jato, por sua vez, afirma na denúncia que parte do valor de propinas pagas pela Odebrecht “foi lavada mediante a aquisição, em benefício do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do imóvel localizado na Rua Dr. Haberbeck Brandão, nº 178, em São Paulo (SP), em setembro de 2010, que seria usado para a instalação do Instituto Lula”.


O pirotécnico Cristiano Zanin Martins, um dos advogados que integram a custosa e badalada defesa de Lula, viu o depoimento de Bumlai como favorável ao petista. “Os depoimentos colhidos hoje pelo Juízo da 13ª Vara Federal Criminal de Curitiba mostram que a ideia de construção de um memorial para abrigar o acervo presidencial do ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva não guarda qualquer relação com os 8 contratos firmados entre a Odebrecht e a Petrobras, como diz a acusação do Ministério Público Federal”, destacou o advogado em nota.

“Ao depor, o empresário José Carlos Bumlai deixou claro que Lula jamais solicitou qualquer intervenção sua objetivando a aquisição do imóvel da Rua Haberbeck Brandão 178, em São Paulo. Mais ainda, Bumlai informou que lhe foi pedido que não comentasse esse assunto com Lula. O empresário reafirmou o que já havia declarado em depoimento anterior – que o projeto em questão pretendia reproduzir espaço similar ao que já abrigava o acervo do ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso”, completou o criminalista.

A nota deixa evidente nas entrelinhas que a aludida inocência de Lula é uma obra de ficção de alguém que está desesperado diante da possibilidade crescente de condenação, mas que para tentar sair ileso não pensou duas vezes antes de colocar a culpa na ex-primeira-dama. Afinal, exceto em centro espírita, morto não fala.

Por outro lado, Marcelo Odebrecht, em depoimento de delação premiada, afirmou aos investigadores e ao juiz Sérgio Moro que o grupo empresarial baiano que leva o nome da família comprou o tal terreno com o objetivo de erguer a sede do Instituto Lula.

De acordo com o empresário, o dinheiro usado na transação imobiliária saiu dos créditos de propina a que Lula tinha direito (sic). A informação foi confirmada por dois outros delatores da Odebrecht: Alexandrino Alencar, ex-diretor de relações institucionais, e Paulo Melo, ex-diretor-superintendente da Odebrecht Realizações Imobiliárias.

Segundo informações dos delatores, o negócio teria sido conduzido pelo advogado Roberto Teixeira, compadre de Lula e um dos integrantes da cara equipe que defende o petista. Teixeira é sogro de Cristiano Zanin Martins, o advogado continua pregando a inocência do ex-metalúrgico.

O UCHO.INFO insiste na tese de que Lula precisa da mentira para na ser preso, ao passo que os delatores dependem da verdade para reconquistar ou manter a liberdade. Como os acordos de colaboração premiada têm regras rígidas – uma delas é o compromisso de falar apenas a verdade –, a essa altura dos acontecimentos é melhor acreditar nos delatores, que repassaram às autoridades informações passíveis de comprovação.

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