Lava-Jato: ao negar a propriedade do triplex no Guarujá, Lula “tropeça” no escândalo do sítio em Atibaia

Alarife maior do esquema de corrupção conhecido como Petrolão, Lula submeteu-se a intenso treinamento antes de comparecer diante do juiz Sérgio Moro, na quarta-feira (10), mas seu indisfarçável nervosismo revelou que nem tudo saiu como esperavam seus caros e badalados advogados.

O deslize que mais chamou a atenção foi com boa dose de certeza o ocorrido no âmbito das perguntas sobre Renato Duque, ex-diretor da Petrobras que chegou ao posto por indicação do Partido dos Trabalhadores, mas alguns outros tropeços discursivos podem dificultar ainda mais a já complexa situação do petista. Lula disse que João Vaccari Neto não tinha qualquer relação com o ex-dirigente da estatal, mas afirmou que ao querer encontrar com Duque recorreu ao ex-tesoureiro do PT.

Acreditando ser mais esperto e treinado do que seus inquiridores, Lula foi perdendo o controle – algo comprovado pelo seu gestual – e fez algumas declarações comprometedoras. Se não no escopo da ação penal que trata do apartamento triplex em Guarujá, certamente na seara de outro processo em que o petista é réu por corrupção e crimes correlatos.

Em dado momento do interrogatório, respondendo a pergunta do procurador Roberson Pozzbon, Lula recobrou a consciência (sic) e confirmou que José Adelmário Pinheiro Filho, o Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS, visitou-o em seu apartamento em São Bernardo do Campo.

“Visitou, eu nem me lembrava da visita. É que eu vi no depoimento dele, ele dizendo que foi lá em casa e depois eu vi o dr. Paulo, que eu não sabia que era Paulo Gordilho, só sabia que era Paulo, que diz que foi lá em casa. Como os dois disseram, eu não me lembro, mas eles disseram que foram, eu também não quero desmentir. Se foram, foram. E não discutiram, e não discutiram apartamento [triplex praiano]. A minha afirmação é categórica. Eu discuti o apartamento duas vezes”, declarou.

Em abril passado, durante depoimento a juiz da Operação Lava-Jato, Paulo Gordilho, ligado à OAS, revelou foi ao apartamento de Lula apresentar dois projetos referentes ao sítio Santa Bárbara, em Atibaia, e ao apartamento triplex 164-A, no Guarujá.


O novo tropeço de Lula surgiu no vácuo de pergunta do procurador Julio Noronha, que quis saber o que o petista e os executivos da empreiteira discutiram durante o encontro. “Eu acho que eles tinham ido discutir a questão da cozinha, que também não é assunto para discutir agora, lá de Atibaia. Eu acho”, afirmou o petista.

Pozzobon, por sua vez, informou ao petista que Pinheiro e Gordilho declararam, em depoimento, que durante a reunião em São Bernardo do Campo também foram discutidos assuntos relacionados ao triplex. “Você também ouviu o dr. Paulo Gordilho dizer que ele notou que a gente nem estava entendendo que ele estava falando do projeto. Ele disse isso no depoimento”, rebateu Lula.

Roberson Pozzobon insistiu no conteúdo da conversa ocorrida no apartamento de Lula, em São Bernardo do Campo, ocasião em que o ex-metalúrgico perdeu a concentração e se enrolou mais uma vez.

“Eu não tenho a menor noção. Só discuti apenas a questão da cozinha. Eu vou dizer para você, nunca mais depois que eu visitei o prédio, nunca mais eu discuti triplex”, ressaltou o ex-presidente da República.

Como vem afirmando o UCHO.INFO há mais de um ano, Lula há de cair na esteira do pífio enredo do Sítio Santa Bárbara, em Atibaia. Pois bem, se o sítio não é de propriedade de Lula, como ele próprio afirma de forma reiterada, não havia razão para que o mesmo decidisse sobre o projeto da cozinha do imóvel rural. O assunto deveria ter sido submetido aos donos legais do sítio, os empresários Fernando Bittar e Jonas Suassuna Filho.

Quando Bittar e Suassuna forem chamados a depor sobre a epopeia bandoleira em que transformou o escândalo do sítio, por certo Lula acabará atrás das grades. Os capítulos do enredo rural são desconexos e não seguem a lógica do raciocínio. Sem contar que muitos objetos encontrados pela PF no malfadado sítio – como, por exemplo, um barco de alumínio – foram comprados em nome de Marisa Letícia, que mesmo no além foi repentinamente transformada em “laranja” do marido.

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