Após decidir renunciar à Presidência, o enrolado Temer muda de ideia e diz que continuará no cargo

Ciente de que a governabilidade do País caiu ao rés do chão, Michel Temer (PMDB) estava decidido a renunciar, mas, por conta dos muitos bamboleios que o tema sofreu desde as primeiras horas da manhã desta quinta-feira (18), o presidente da República disse, em rápido pronunciamento à nação, que não deixará o cargo de maneira alguma.

Temer disse que solicitou oficialmente ao Supremo Tribunal Federal (STF) acesso às gravações feitas pelo empresário Joesley Batista, um dos donos do grupo JBS, mas não obteve retorno da Corte até o momento do pronunciamento.

O presidente tem o direito de continuar no cargo, mesmo diante da extensa crise política que se formou após a divulgação do escândalo, mas é preciso saber até quando ele reunirá condições políticas para permanecer presidente. Para que isso ocorra é preciso apoio político, algo que passa por severo processo de desidratação desde a noite de quarta-feira (17).

Se para aprovar as reformas que aguardam votação no Congresso Nacional o governo enfrentava dificuldades por causa da fragilidade do apoio às medidas, no caso do JBSgate a situação é ainda pior. Isso porque além da impopularidade das reformas trabalhista e previdenciária, os parlamentares querem manter distância da peçonha do escândalo de corrupção.


O principal argumento dos assessores palacianos que levou Michel Temer a mudar de ideia foi a manutenção do foro especial pro prerrogativa de função, o chamado foro privilegiado, que dá ao presidente o direito de ser investigado apenas pelo Supremo Tribunal Federal (STF), como já acontece, uma vez que o crime de obstrução à Justiça foi cometido no exercício do mandato presidencial.

Isso posto, Temer acabou aceitando os conselhos dos colaboradores, principalmente porque, como antecipou o UCHO.INFO em matéria publicada na edição de quarta-feira, a renúncia o colocaria diante da possibilidade iminente de prisão. Para que o fiasco não fosse completo, o presidente preferiu rever sua decisão de deixar a Presidência.

Aliás, a questão do foro privilegiado foi um dos fatores que levaram Michel Temer a se empenhar no processo de impeachment da antecessora, a petista Dilma Rousseff. O atual presidente sabia que se chegasse ao principal gabinete do Palácio do Planalto teria, em tese, trinta meses de blindagem jurídica no âmbito da Operação Lava-Jato. O presidente só não contava com a astúcia de Joesley Batista.

Como mencionado acima, é direito de Temer rechaçar a ideia de renúncia, mas em algum momento ele será apeado do cargo – por meio de impeachment ou da cassação da chapa encabeçada por Dilma. Estivesse preocupado com o futuro da nação, o presidente teria renunciado para abreviar uma crise múltipla que pode se arrastar por meses a fio. Mas atitudes como essa sugerida pelo UCHO.INFO exige grandeza daquele que renuncia. Algo que Michel Temer desconhece.

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