Denúncia de corrupção contra Aécio deixa órfã de coerência e lógica a ação contra a chapa Dilma-Temer

Os efeitos colaterais do maior esquema de corrupção da história da Humanidade, o Petrolão, transformaram o Brasil em reduto da ilógica. Isso porque, sem que haja novidade, os paladinos da moralidade são tão ou mais delinquentes do que aqueles que acusam.

A partir do dia 6 de junho, durante quatro sessões, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) tomará uma decisão no âmbito do processo que pede a cassação da chapa Dilma-Temer, acusada de abuso de poder político e econômico.

A ação foi protocolada pelo PSDB em face da derrota do agora afastado senador Aécio Neves (MG), que na eleição presidencial de 2014 foi derrotado pela petista Dilma Vana Rousseff. Alegaram Aécio e seus comparsas de tucanato que a chapa adversária teria utilizado dinheiro de corrupção para financiar a campanha. O que jamais foi novidade, muito menos agora.

Quem acreditou naquele falso “bom-mocismo” do incompetente Aécio deu com “os burros n’água”, como prega a sabedoria popular. Como afirma o UCHO.INFO há mais de uma década, no Brasil, para a infelicidade geral da nação, política só se faz com muito dinheiro, na maioria das vezes de origem criminosa. Aliás, nessa barafunda em que se transformou o País, política e corrupção são irmãs xifópagas.

O TSE, segundo apurou este noticioso, estava propenso a condenar Dilma e poupar Temer, apenas porque em xeque estava a governabilidade do País. A estratégia da Corte eleitoral foi esculpida com o cinzel da hermenêutica, palavra que pode ser facilmente traduzida como “bamboleio interpretativo”. O TSE construiu a tese de que é possível separar a chapa, o que beneficiaria o peemedebista e condenaria a petista no rastro da inelegibilidade por oito anos.

Contudo, o mais novo escândalo que surgiu na órbita da Operação Lava-Jato, o JBSgate, fez com que a mencionada tese passasse a enfrentar um processo de corrosão nos bastidores do TSE. A razão disso é a grave denúncia que pesa contra Michel Temer, que em encontro amigável (sic) no Palácio do Jaburu foi gravado pelo empresário Joesley Batista, um dos donos do Grupo JBS.


De novo a governabilidade do País voltou à cena, desta vez com a ajuda dos crimes pelos quais Temer está a ser investigado pelo Supremo Tribunal Federal (STF): corrupção, organização criminosa e obstrução à Justiça.

Com isso, o TSE passou a ter nas mãos a responsabilidade de acionar uma espécie de válvula institucional: cassar a chapa Dilma-Temer, fazendo com que o presidente da República seja apeado do cargo. Mesmo assim, qualquer decisão da Corte eleitoral é passível de recursos ao STF.

Mas a questão não recai sobre Michel Temer, mas sobre a imaginada coerência que deixou de frequentar o respectivo processo de cassação da chapa. A ação foi protocolada a pedido de Aécio Neves, que foi afastado do mandato de senador por corrupção. Gravado por Joesley, o agora “senador sem função” recebeu R$ 80 milhões para a campanha de 2014, a maior parte por meio de caixa 2, segundo relato de Ricardo Saud, executivo do Grupo JBS e delator.

O TSE decidiu ouvir no escopo do mencionado processo alguns delatores da Operação Lava-Jato – os marqueteiros Mônica Moura e João Santana –, o que complicou ainda mais a situação de Dilma. Agora, Joesley Batista, que não foi ouvido pelo TSE, disse à PGR que o autor da ação (Aécio Neves) e um dos réus (Michel Temer) receberam dinheiro de propina.

Muitos contestarão esta matéria usando a máxima burra de que “uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa”, mas não há como negar que o processo tornou-se uma tremenda aberração no universo da coerência. Alguém há de alegar que a lógica jurídica – se é que existe no Brasil – permite que a ação avance, mas é no mínimo grotesco um corrupto processando outros dois. Algo semelhante a uma denúncia de Luiz Fernando da Costa, o popular Fernandinho Beira-Mar, contra o traficante da esquina mais próxima. Enfim…

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