Lava-Jato: tranquilidade e deboche de delatores revelam a extensão do esquema que arruinou o País

Quando, em agosto de 2005, o editor do UCHO.INFO afirmou, sem medo de errar e pela primeira vez, que um novo e gigantesco esquema de corrupção já funcionava, em substituição do Mensalão do PT, alguns profissionais de comunicação preferiram criticar duramente nossa informação. Semanas depois, quando o então deputado federal José Janene (PP-PR), já falecido e mentor intelectual do Petrolão, passou a intimidar e a ameaçar o editor, ficou claro que estávamos no caminho certo.

O tempo passou e, em janeiro de 2009, em nova denúncia, desta vez ao Ministério Público Federal (MPF), o editor já tinha informações seguras de que esquema criminoso se agigantara e contava com requintes de organizações criminosas.

Desde a deflagração da Operação Lava-Jato até os dias atuais, lá se vão mais de três anos, foi possível perceber que a roubalheira sistêmica que arruinou o País alcançou proporções estratosféricas e inimagináveis, tamanho o volume de dinheiro público roubado que serviu para pagar propinas a políticos e autoridades.

Há nessa minissérie criminosa, sem previsão de acabar, alguns pontos que precisam ser analisados, antes que todos os envolvidos vistam a fantasia da inocência ou da perseguição, como alguns já arriscam a fazer.

Causa espécie a maneira tranquila e descontraída com que alguns delatores relataram aos investigadores da Lava-Jato detalhes impressionantes do maior e mais ousado esquema de corrupção de todos os tempos, o Petrolão. É o caso de Marcelo Odebrecht, Emílio Odebrecht, Mônica Moura e Joesley Batista. Sem desprezar a importância das informações prestadas pelos outros delatores, o mencionado quarteto trata de roubo de dinheiro público com naturalidade que chega a ser aviltante, como se estivessem a relatar uma noitada no cassino.


Em seus respectivos depoimentos, Marcelo, Emílio, Mônica e Joesley estavam tão à vontade falando sobre corrupção e pagamento de propinas milionárias, que em diversos momentos chegaram a esboçar sorrisos e expressões de satisfação. Esse comportamento talvez seja um sinal de prazer diante da oportunidade de se vingar com os outros integrantes da quadrilha que os deixaram na mão.

Por outro lado, a postura dos corruptos passivos – os que cobraram e receberam polpudas propinas – é inaceitável. Acusados de corrupção e outros crimes, todos, sem exceção, não apenas alegam inocência, mas ousam falar em complô, perseguição e outros quetais. Trata-se de um espetáculo de desfaçatez que a sociedade não deve aceitar e muito menos transformar o tema em assunto para conversas de botequim.

Os ladrões com cargos ou mandatos saquearam os cofres públicos a mais não poder, mas continuam sonhando com a impunidade. Ambos os comportamentos – dos delatores e dos delatados –, que são passiveis de compreensão, mas jamais de aceitação, mostram a extensão da roubalheira e principalmente a forma como, por mais de uma década, agiram aqueles que tinham a obrigação de zelar pelo bem público e decidir o futuro da nação.

O ponto mais importante desse conflito de declarações está em um fato que há muito o UCHO.INFO vem dando destaque. Os delatores, que tratam do saque aos cofres públicos com a mesma tranquilidade com que contam um “causo”, dependem apenas e exclusivamente da verdade para não perder a liberdade – em alguns casos para reconquistá-la. Os delatados, sempre falsos inocentes, são reféns da mentira porque sonham em não perder a liberdade.

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