JBSgate: ao desistir do pedido de suspensão do inquérito no STF, Temer mostra que jogará com o tempo

(Carlo Allegri – Reuters)

Vencidos os inócuos efeitos dos pronunciamentos acerca do escândalo JBSgate, Michel Temer tem a partir de agora o tempo como único aliado, que será utilizado ao máximo pela defesa do presidente para, na melhor das hipóteses, postergar um desfecho que todos já sabem como será.

Após solicitar ao Supremo Tribunal Federal (STF) a suspensão do inquérito aberto para investigar crimes de corrupção, associação criminosa e obstrução à Justiça, os advogados de Temer desistiram do procedimento no rastro de perícia privada na polêmica gravação feita pelo empresário Joesley Batista, presidente do Grupo JBS, durante encontro no Palácio do Jaburu, em 7 de março.

Michel Temer e seus defensores inicialmente apelaram à tecnicidade jurídica para ganhar tempo, mas diante do estrago produzido pela gravação a saída foi mudar de estratégia, sempre tendo o tempo como meta: tentar provar a inocência do presidente da República no curso do inquérito, que deve demorar alguns meses, considerando recursos e outras manobras previstas na legislação.

De acordo com informações palacianas, a perícia contratada por Michel Temer apontou pelo menos setenta “pontos de obscuridade” na gravação em que o presidente endossa o pagamento de mesada a Eduardo Cunha, em troca do silêncio do agora deputado cassado.

“Nós contratamos uma perícia particular no final de semana. O Dr. (Antônio Cláudio) Mariz [dono do escritório de advocacia que defende Temer] contratou uma perícia em São Paulo. Nós nos sentimos atendidos com o pedido da perícia atendido e, portanto, vemos a desnecessidade de suspender (o inquérito). O presidente a partir do resultado dessa nossa perícia o presidente quer que essa situação seja esclarecida o mais rapidamente possível. (…) O presidente quer dar essa resposta ao país o mais rapidamente possível”, disse o advogado Gustavo Guedes.


O defensor afirmou que a única prova do inquérito contra Temer é a gravação, a qual considera “imprestável”. É importante salientar que a questão não é tão simples quanto relata Gustavo Guedes. Afinal, a Procuradoria-Geral da República (PGR) não solicitaria a abertura de inquérito contra Temer com base em prova possivelmente frágil, assim como o ministro Luiz Edson Fachin, relator da Operação Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF) , não teria autorizado a abertura do procedimento investigatório.

“A defesa do presidente contratou uma perícia e a perícia no final de semana verificou que não havia 50, nem 14 pontos de edição, e sim 70 pontos de obscuridade no material. Nós fizemos agora um pedido dizendo o seguinte: já que nós temos agora o resultado de um trabalho que a gente confia, nós queremos que esse inquérito se ultime o mais rapidamente possível. (…) O importante é que em relação ao presidente a prova que há é o áudio, não há nada mais. E esse áudio, segundo as perícias, é na nossa avaliação imprestável”, disse o advogado.

A presidente do STF, ministra Cármen Lúcia, declarou que a perícia no arquivo de áudio só será feita no equipamento que realizou a gravação, que segundo o advogado de Joesley Batista está com o cliente em Nova York. Ou seja, a confusão é enorme e deve ir muito mais longe do que se pode imaginar.

Ciente de que a renúncia ao cargo seria um passo perigoso na direção de eventual pedido de prisão, em virtude da perda do foro privilegiado, Temer optou pelo caminho mais longo, pelo menos por enquanto, não importando o agravamento da crise que virá com o passar dos dias. Usará a seu favor todas as manobras e chicanas jurídicas para permanecer no poder e, ato contínuo, blindado.

Enquanto isso, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) começa a sentir o peso que recai sobre o julgamento do processo sobre a chapa Dilma-Temer, acusada de abuso de poder político e econômico na eleição presidencial de 2014. O escândalo envolvendo Wesley batista não é foco da mencionada ação, mas poderá interferir sobremaneira na opinião dos julgadores.

Uma eventual cassação da chapa não estava no cardápio do referido julgamento até a eclosão do JBSgate, até porque havia a possibilidade de a maioria dos ministros da Corte eleitor aderir à tese da divisão da chapa, mas com o escândalo ainda em ebulição o veredicto pode ser outro. Que Dilma será condenada com a inelegibilidade por oito anos é quase favas contadas, mas a cassação de Temer pode ser a saída honrosa que o presidente tanto precisa. Deixaria o cargo debaixo do discurso de golpe ou complô, não como corrupto.

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