Temer luta na guerra errada

(*) Carlos Brickmann

Quando Bill Clinton desafiava o prestigiado presidente George Bush (o pai), amplamente vitorioso na guerra contra o Iraque, seu marqueteiro James Carville repetiu até ser ouvido: “É a economia estúpido”. Bush era popular, mas o desemprego era grande e a economia americana ia mal das pernas. Clinton espalhou pelo país seu slogan: “Saddam Hussein manteve o emprego. E você?” Ganhou – e garantiu ao país oito anos de crescimento.

Temer tenta usar o mesmo argumento no Brasil: enquanto se discutem problemas políticos e criminais, a economia volta lentamente a crescer, a inflação caiu abaixo dos 4,5% anuais fixados pelo Governo, as exportações voltam a superar as importações. Mas, como lembrava o primeiro-ministro francês na época da 1ª Guerra Mundial, Georges Clemenceau, o principal erro dos comandantes é lutar numa guerra com as táticas que deram certo na guerra anterior, e já estão superadas. Temer acha que vai ganhar a guerra apresentando bom desempenho econômico. Não vai: nesta luta pelo poder, a guerra não é econômica e o slogan é outro. “É a política, estúpido”.

Temer perdeu um partido médio, o PSB. Seu PMDB está rachado, e Renan Calheiros o quer com uma estaca de madeira cravada no peito. PSDB e DEM balançam, embora prometam apoio (o presidente nacional tucano, Tasso Jereissati, tem até o nome de seu ministro da Fazenda caso vá para o lugar de Temer: em vez de Meirelles, Armínio Fraga). É o jogo.

Prósperas…

Delação premiada não significa perdão total aos dedos-duros. Nem é feita para atingir um só alvo. Na delação premiada, o delator confessa os crimes que cometeu e indica, com provas, seus companheiros de malfeitos. Vale para todos, não apenas para um dos times. Joesley disse a Temer na gravação, que tinha boas relações com a imprensa e por isso estava livre do noticiário dos avanços da Lava Jato. O fato é que um dos delatores da JBS acusou o jornalista Cláudio Humberto de ter extorquido da empresa R$ 18 mil mensais, para poupá-la em suas publicações. Cláudio Humberto informou que tem um contrato de publicidade com a JBS, neste valor, assinado, registrado e com os impostos devidamente recolhidos. OK, que se investigue o caso (embora sem o foguetório que os inimigos de Cláudio Humberto vêm fazendo). E se investigue também como é que um jornalista, que fazia campanha pública contra Lula na TV, de repente mudou de lado e, sempre na TV, passou a defensor radical de Lula, Dilma e do PT). Como é que outro jornalista enriqueceu ao criar uma espécie de Diário Oficial do PT na Internet. Tem mais, e tem dos dois lados.

…notícias

Um dos empresários mais competentes que este colunista conheceu costumava dizer, quando lhe diziam que alguém enriqueceu honestamente, que “ninguém enriquece honestamente”. Em seguida, ria muito. Ele era empresário, tinha enriquecido e sabia direitinho como o mundo funcionava. E acreditaria menos ainda se lhe dissessem que um grupo empresarial enriquecera honesta e rapidamente, tendo acesso a gordos cofres públicos.

Religião atacada

Aonde vai a barbárie: uma linda canção cristã, “Amazing Grace”, de John Newton, é espalhada na Internet com uma letra falsa, de Marcos Borkowski, louvando guerras e combates e terminando com um apelo à intervenção constitucional no Brasil, seja lá isso o que for. http://wp.me/p6GVg3-3oA

Ninguém é santo

Comentário de Sérgio Fadul, diretor da Sucursal de “O Globo” em Brasília: “Joesley preparou uma armadilha e Temer caiu. Não há inocentes nessa conversa. Ali, quem falou sabia o que estava falando, para quem estava falando e por que estava falando. Joesley não queria Justiça, queria arrumar um cúmplice e conseguiu. Para o presidente, político experiente e profundo conhecedor das normas legais, o tom de informalismo que tenta dar ao encontro não combina com a imagem que construiu de homem público cioso dos protocolos de postura. Ali, na conversa, ficam expostos os ‘usos e costumes’ que comandam a política e alguns empresários.”

Não dá vontade de ter assinado este comentário?

Ponto final?

Um dos alvos mais resistentes do Ministério Público sofreu dura derrota: Paulo Maluf foi condenado pela Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal, por 4×1, por lavagem de dinheiro. Pena: 7 anos, 9 meses e dez dias de prisão em regime fechado. O único a votar contra foi Marco Aurélio Mello, para quem o crime atribuído a Maluf prescreveu. Maluf foi acusado de lavar dinheiro desviado da Prefeitura de SP entre 1993 e 1996.

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.

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