Depois dos fiascos que protagonizou em sua viagem à Rússia e à Noruega, o presidente Michel Temer retorna ao Brasil para deparar-se com pelo menos dois enormes problemas. Depois de chamar o empresário Joesley Batista de “bandido” e outros quetais, Temer alegou, por meio de seus advogados, que a gravação feita pelo dono da JBS fora grosseiramente editada, como se população não soubesse como se faz política no Brasil.
O primeiro grande problema eclodiu na quinta-feira (22), quando o ministro Luiz Edson Fachin, relator da Operação Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), deu à Procuradoria-geral da República prazo até a próxima terça-feira (27) para oferecer denúncia contra Temer. O procurador-geral, Rodrigo Janot, deve mandar à Câmara dos Deputados uma denúncia por crimes de corrupção, organização criminosa e obstrução à Justiça.
Com o presidente da República vivendo um calvário conturbado e quase sem fim, rejeitar a denúncia no plenário da Câmara exigirá muito esforço do governo, além de disposição para sentar-se à mesa de negociações. Afinal, nenhum deputado colocará o próprio projeto de reeleição na guilhotina sem ter uma contrapartida à altura. Traduzindo, Temer terá de se preparar para o escambo criminoso.
Ciente da dificuldade crescente, o staff palaciano já trabalha como se estivesse nos estertores. Temendo a possibilidade de um revés no plenário da Câmara, a assessoria presidencial tenta convencer alguns deputados a se ausentarem da fatídica votação. Em outras palavras, em vez de arregimentar 342 deputados para barrar a denúncia, o governo agora adota a estratégia de esvaziar o plenário. Sinal explícito de desespero.
O segundo entrave surgiu em cena no começo da noite desta sexta-feira (23). A Polícia Federal concluiu perícia no gravador utilizado por Joesley Batista para gravar conversa com Temer, na calada da noite e nos porões do Palácio do Jaburu, e, segundo laudo técnico, não houve edição na gravação. De acordo com os peritos, as interrupções no áudio foram provocadas pelo equipamento usado pelo empresário.
Com esse resultado pericial, a situação de Michel Temer piora sobremaneira. Isso porque, além de a acusação feita por Joesley ser de extrema gravidade, cresce a possibilidade de Rodrigo Rocha Loures, ex-assessor de Temer, aderir à colaboração premiada.
Considerando que o doleiro Lucio Bolonha Funaro, preso no Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília, já começou a relevar às autoridades detalhes do esquema de corrupção montado pelo PMDB, a a única solução para Michel Temer volta a ser a renúncia. O grande problema é que sem o chamado foro privilegiado, Temer corre o risco de acordar com a PF batendo à porta de sua mansão, na capital paulista, nas primeiras horas da manhã.