Nicolao Dino, Raquel Dodge e Mario Bonsaglia. Eis os nomes que integram a lista tríplice de candidatos à sucessão de Rodrigo Janot na Procuradoria-Geral da República. A queda de braços entre o procurador-geral e Michel Temer vinha se acirrando por causa da possibilidade de o presidente da República não indicar ao cargo um dos nomes da lista, rompendo a tradição inaugurada por Lula.
Definida por votação organizada pela Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPF), uma espécie de sindicato da categoria, a lista é entregue pelo presidente da entidade ao ministro da Justiça, Torquato Jardim, que por sua vez leva ao chefe do Executivo federal.
Michel Temer havia assumido o compromisso de manter a tradição, inclusive de escolher o primeiro colocado da lista, mas isso pode não acontecer. Aliás, o presidente da República não tem a obrigação de escolher o procurador-geral da República com base na tal lista tríplice. Em outras palavras, um nome de fora da lista pode ser escolhido para comandar a PGR.
Nos últimos dias, o nome de Raquel Dodge ganhou força no Palácio do Planalto, especialmente porque a procuradora já defendeu publicamente a redução do número de procuradores cedidos para determinadas operações. Isso significa que, se indicada ao cargo, Raquel Dodge poderá esvaziar a força-tarefa da Operação Lava-Jato, que conta com vários procuradores federais atuando por cessão.
O fato de o nome de Raquel Dodge constar da lista tríplice proporciona certo alívio para o governo, que nas últimas horas vem enfrentando crises políticas graves e seguidas. Tanto é assim, que não está descartada uma confirmação antecipada do nome de Dodge com forma de esvaziar o discurso de Rodrigo Janot, que deixa o posto de 17 de setembro. Como se não bastasse, Temer teria a chance de nomear a primeira mulher para a Procuradoria-Geral da República.
A queda de braços entre Janot e Temer ganhou capítulo extra na tarde desta terça-feira (26), quando o presidente da República disse ser a denúncia uma “ficção” e afirmou que o desejo do procurador é “parar o País”. Essa declaração tem como base a decisão de Janot de fatiar a denúncia contra Temer, causando um congestionamento jurídico e político inaceitável, especialmente no momento em que a crise política ganha contornos extremamente perigosos.
O cabo de guerra que se formou entre o presidente e o procurador-geral ganhou ingrediente extra, pois em determinado trecho de seu pronunciamento Temer insinuou que Janot pode ter se beneficiado materialmente na esteira do acordo de colaboração premiada da JBS. Isso porque o ex-procurador Marcelo Miller deixou a PGR e passou a trabalhar no escritório de advocacia contratado por Joesley para negociar a delação.
Confira abaixo o breve currículo dos integrantes da lista tríplice escolhida pela ANPR:
Nicolao Dino – Natural de São Luís (MA), tem 53 anos e é irmão do governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB). Ingressou no Ministério Público Federal em 1991 e atualmente é vice-procurador-geral eleitoral, tendo atuado no processo que pediu a cassação da chapa Dilma-Temer no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). É professor de Direito na Universidade de Brasília (UnB) e liderou a escolha com 621 votos.
Raquel Dodge – Ingressou no MPF em 1987 e atua junto ao STJ em processos da área criminal. Com experiência em assuntos relacionados à defesa do Consumidor, é conselheira do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) e atuou na operação Caixa de Pandora e na equipe que investigou o chamado Esquadrão da Morte. No processo de escolha teve 587 votos.
Mário Bonsaglia – No MPF desde 1991, atua em matérias criminais junto ao STJ e é conselheiro e vice-presidente do CNMP. Já atuou como procurador regional eleitoral em São Paulo e possui doutorado em Direito do Estado pela Universidade de São Paulo (USP). Na eleição do ANPR teve 564 votos.