Uma investigação conduzida pela Organização das Nações Unidas (ONU), publicada nesta terça-feira (8), mostra que pelo menos 73 das 124 mortes registradas desde abril na Venezuela foram de responsabilidade direta das autoridades venezuelanas ou de milícias ligadas ao governo truculento do ditador Nicolás Maduro.
A ONU também aponta que, desde abril, um total de 5.051 prisões arbitrárias foram realizadas no país sul-americano, que vive não apenas uma grave e crescente crise econômica, mas um constante desrespeito às liberdades democráticas. Entre os detidos, pelo menos 20% continuam presos, sendo que há relatos de sessões de tortura nas prisões. Além disso, 2 mil pessoas também foram feridas nos confrontos com as tropas leais a Maduro.
“Houve um sistemático e generalizado uso de força excessiva e detenções arbitrárias contra os manifestantes por parte do governo para reprimir manifestações”, denuncia a ONU.
A divulgação dos resultados da investigação acontece uma semana após a Organização dos Estados Americanos (OEA) confirmar coleta de informações para denunciar o governo Maduro no Tribunal Penal Internacional por crimes contra a humanidade.
Em relação à investigação conduzida pela ONU, um relatório final será apresentado no início de setembro e alguns governos já se preparam para cobrar a convocação de reunião de emergência do Conselho de Direitos Humanos com o objetivo de avaliar a crise venezuelana e exigir medidas imediatas por parte da comunidade internacional.
“Estamos vendo instituições democráticas sendo minadas”, alertou a ONU, citando os ataques contra a Procuradoria-Geral da Venezuela. “As conclusões da equipe indicam a existência de um padrão de outras violações de direitos humanos, que incluem invasões violentas de residências, torturas e maus-tratos às pessoas detidas em razão dos protestos”, destaca a entidade.
Mortos e feridos
Ao reconhecer que 124 pessoas foram mortas no país durante manifestações contra o governo Maduro, a ONU afirma que “as forças de segurança são responsáveis por pelo menos 46 dessas mortes, enquanto os grupos armados pró-governamentais, conhecidos como ‘coletivos armados’, seriam responsáveis por outros 27 óbitos”.
A ONU admite que há registro de atos de violência por parte de “alguns grupos”, mas não arriscou afirmar que o restante das mortes, tirante as creditadas ao governo, são de responsabilidade desses grupos que querem a volta da democracia e a realização de eleições gerais.
“Alguns grupos de manifestantes também atuaram com violência e informa-se que ocorreram ataques contra agentes de segurança”, destaca a ONU. “Oito elementos dos corpos de segurança morreram no contexto das manifestações”, completa o órgão.
A investigação também revela 1,9 mil casos de feridos em decorrência dos confrontos durante as manifestações, mas o número efetivo de pessoas alvo de lesões nos protestos pode ser “muito maior”. “A informação compilada pela equipe indica que os coletivos armados, montados em motos, frequentemente atacam e assediam os manifestantes”, enfatiza o documento. “Em determinados casos, também disparam com armas de fogo”.