Não é novidade o racha no PSDB, algo que desde a criação do ninho tucano vem ganhando força e dimensão. Contudo, o último programa do partido, levado ao ar nos últimos dias, é o que se pode chamar de suicídio político com farsa de ocasião.
No programa, o partido tenta fazer um mea culpa nada convincente ao afirmar que errou ao concordar com o “fisiologismo da velha política”, sem dar os nomes dos que erraram. Ou seja, o PSDB colocou na mesma vala todos os tucanos, poupando figuras como o senador Aécio Neves (PSDB-MG), que afunda em escândalos de corrupção, ao mesmo tempo em que atingiu políticos que não têm envolvimento com desvios e outras práticas condenáveis.
Esse “bom-mocismo” do PSDB tem prazo de validade curtíssimo, pois Aécio Neves continua como presidente licenciado do partido, quando na verdade já deveria ter sido expulso, uma vez que é claro seu envolvimento no escândalo que tem na proa o empresário Joesley Batista.
O tucanato também condenou o que chamou de “presidencialismo de cooptação”, como se a legenda não usasse tal prática em todas as esferas do Estado. No âmbito federal, o PSDB apoiou o governo do presidente de Michel Temer em troca de cargos no primeiro escalão da máquina pública, o que mostra a disposição dos tucanos para aquilo que a cúpula da legenda condena.
Na esfera estadual a cena se repete. Em São Paulo, o governador Geraldo Alckmin, que trabalha nos bastidores para ser o presidenciável dos tucanos, adota prática idêntica, pois do contrário não teria condições de administrar a mais importante unidade da federação. Ademais, na seara de Alckmin sobram tucanos que agem como políticos velhacos, todos protegidos de alguma forma pelo governador paulista.
No escopo da administração da maior cidade brasileira, São Paulo, a situação não é diferente. Para se transformar em prefeito da Pauliceia Desvairada, o neotucano João Doria foi obrigado a aceitar as imposições de Geraldo Alckmin, que por sua vez controla algumas secretarias da administração paulistana.
Atitude louvável, reconhecer os próprios erros é uma clara demonstração de humildade, algo que não combina com a soberba dos tucanos, que quase sempre exibem seus punhos de renda. Sem contar a folclórica situação de permanecer “em cima do muro” diante de situações de dificuldade.
A estratégia tucana levada a cabo no programa partidário pode até funcionar, mas é preciso saber se o PSDB sairá da praia do discurso fácil e ingressará no terreno da efetividade. Do contrário, o brasileiro terá assistido mais um embuste político, cujo objetivo, como sempre, é ludibriar a opinião pública.
Por outro lado, analisando de forma pragmática o conteúdo do programa partidário dos tucanos, o qual vem rendendo críticas ao presidente da legenda, senador Tasso Jereissati (CE), é preciso destacar que se o desejo do prefeito de São Paulo é mesmo concorrer à Presidência da República em 2018, o melhor a essa altura dos acontecimentos é fazer as malas e embarcar em novo partido.