Lava-Jato: eventual delação de herdeiro da Mendes Junior deve mirar Aécio, Renan e hidrelétrica de Xingó

Ex-vice-presidente da Mendes Junior e um dos herdeiros da construtora fundada em Belo Horizonte, o empresário Sérgio Cunha Mendes (à esquerda na foto) parece não viver seus melhores dias. Condenado em novembro de 2015, no âmbito da Operação Lava-Jato, a 19 anos e 4 meses de prisão por corrupção ativa, Sérgio Mendes teve a pena aumentada pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), com sede em Porto Alegre, para 27 anos e 2 meses de reclusão.

Inicialmente, após recurso apresentado pelo advogado Marcelo Leonardo na tentativa de reverter pena imposta pelo juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba, o TRF-4 havia decidido, em julho passado, aumentar a pena para 47 anos e 2 meses de prisão, mas na última quarta-feira o período de reclusão ficou menor, mas além do que o determinado na sentença de primeira instância.

Caso o Supremo Tribunal Federal (STF) mantenha o entendimento de que é possível o cumprimento de sentença condenatória a partir de decisão em segunda instância, Sérgio Cunha Mendes corre o risco de ser preso a qualquer momento.

O empresário retomou as incursões junto à Procuradoria-Geral da República (PGR) na tentativa de viabilizar um acordo de colaboração premiada, mas os procuradores preferiram não avançar no assunto, pois o alvo principal da delação seria o senador Aécio Neves (PSDB-MG), que na ocasião das tratativas já estava no foco de investigações decorrentes dos depoimentos dos executivos do Grupo J&F (leia-se JBS).

Diante da negativa, o empreiteiro preferiu apostar suas fichas no recurso apresentado ao TRF-4, mas a aposta fracassou. Agora, com a possibilidade de prisão imediata se aproximando com celeridade, Cunha Mendes voltou à carga na PGR, mas não é certo que a empreitada terá sucesso.


O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que dentro de um mês deixará o cargo, é quem iniciou as conversações com a defesa de Mendes e possivelmente não terá tempo para finalizar um acordo de colaboração que, se bem sucedido, reduzirá a pena do empreiteiro.

Uma eventual delação de Sérgio Mendes só terá sucesso se o conteúdo dos depoimentos for de interesse da PGR, o que mostra que os acordos têm caráter seletivo. Segundo apurou o UCHO.INFO, o empreiteiro poderá elucidar alguns escândalos conhecidos, como, por exemplo, o que envolve o senador Renan Calheiros (PMDB-AL).

O peemedebista alagoano é alvo de ação penal que tramita no STF por conta do dinheiro utilizado no pagamento das despesas de sua outrora amante e da filha furto desse relacionamento paralelo. Segundo consta, as despesas da jornalista Mônica Veloso foram pagas com recursos da Mendes Júnior, mas o senador alegou que usou dinheiro proveniente da venda de cabeças de gado. E para tanto apresentou notas fiscais que suscitaram a abertura de inquérito e a respectiva ação penal.

Outro assunto polêmico que poderá engrossar uma eventual delação de Sérgio Mendes é a obra da construção da Hidrelétrica de Xingó, no Rio São Francisco, entre os estados de Sergipe e Alagoas. De acordo com informações levantadas por este portal, houve pagamento de propinas milionárias nas obras de Xingó.

No caso de a eventual delação envolver o capítulo Xingó, um novo e bilionário problema há de surgir na sequência. Uma das empreiteiras investigadas na Operação Lava-Jato conta o levantamento de indenização (mais de R$ 1,6 bilhão) – fruto de condenação imposta à Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf) no âmbito de ação que tramitou no Superior Tribunal de Justiça (STJ). Em suma, o efeito cascata da aludida delação terá força de tsunami.

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