Críticas ao discurso de Temer na ONU mostram que parte da imprensa brasileira sobrevive do caos

Parte da imprensa brasileira continua agarrada ao radicalismo noticioso, pois a exacerbação do pensamento não apenas atende aos anseios de parcela de uma sociedade alienada que prefere não enxergar a realidade, mas proporciona audiência e minutos de fama a quem defende e propaga o ignaro ortodoxismo direitista como forma de sobrevivência.

A mais recente bizarrice midiática encontra respaldo na tese de que o discurso do presidente Michel Temer, na abertura da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York, na terça-feira (19), foi uma enxurrada de besteiras, sendo que o mandatário brasileiro não mencionou a grave crise política verde-loura, cujo combustível principal é um impressionante e quase interminável conjunto de escândalos de corrupção.

Só mesmo um parvo para acreditar que Temer deveria levar à ONU os problemas internos de um país que passa por profunda depuração no rastro de inúmeras ações contra a corrupção sistêmica. A ONU não é o quintal da casa da avó, onde familiares tentam dirimir discórdias e enfrentamentos, mas um órgão que busca o consenso e a convivência harmoniosa entre as nações, ao mesmo tempo em que funciona como palco para solução de questões internacionais.


É fato que uma nação não pode compactuar com a roubalheira institucionalizada, mas é preciso cobrar desses incendiários da imprensa soluções para os problemas que se apresentam diuturnamente. Estar à frente de um processo de lavagem cerebral, sabidamente movido pelo radicalismo, é tarefa fácil para quem acostumou-se a guerrear contra o establishment apenas porque é uma atitude politicamente correta. E esse status do politicamente correto é sinal de que o pensamento pasteurizado é a tônica do cotidiano.

Defender um país e seu povo é missão árdua que exige disposição, determinação e massa cinzenta. Sem essa trinca de ingredientes é impossível pensar em nação e falar em futuro, pois é preponderante reconhecer o fracasso do Estado brasileiro como um todo. Sem essa imperiosa compreensão da realidade, nada surgirá em termos de ideias na trilha de uma solução que ainda está a léguas de distância. Em outras palavras, é preciso desvencilhar-se da idiossincrasia que avança Brasil afora.

No vácuo da busca do reconhecimento a qualquer preço, parte da imprensa sempre exibe disposição para fermentar uma revolução bizarra e imediatista baseada no populismo insano, sem rascunhar o script do capítulo seguinte. Ou seja, atiram a opinião pública aos leões, sem se preocupar com o minuto seguinte.

O Brasil é uma democracia jovem e despreparada, por isso é preciso paciência e perseverança diante de solavancos. Um povo só se transforma em nação quando aceita existir debaixo de um ordenamento legal. E o que vem sendo pregado por alguns gênios (sic) da informação é o atropelamento das instituições e o vilipêndio à Carta Magna. Ou pensa-se o Brasil no espectro do longo prazo, ou aceita-se a ideia de que tudo está perdido.

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