Uma enorme multidão foi às ruas de Barcelona no domingo (8) para protestar contra as intenções de independência da Catalunha e em favor da unidade da Espanha. A passeata reuniu entre 350 mil, segundo a polícia, e 950 mil participantes, de acordo com os organizadores. O Prêmio Nobel de Literatura Mario Vargas Llosa discursou no comício de fechamento.
Milhares de pessoas saíram da Praça Urquinaona em direção à estação de metrô de França, erguendo bandeiras espanholas e catalãs sob a palavra de ordem “Basta! Recuperemos a sensatez”.
Entre a profusão de bandeiras espanholas, catalãs e europeias, a marcha começou a avançar lentamente a partir das 12h (horário local), entre gritos de “Puigdemont para a prisão”, em referência ao líder do governo autônomo catalão, ou “viva Espanha, viva Catalunha”.
Em seu discurso, o escritor Mario Vargas Llosa criticou a “paixão nacionalista”, chamou de “golpistas” os líderes do governo regional e ressaltou que a “conspiração independentista não destruirá 500 anos de história” da Espanha unida nem a converterá em um país “terceiro-mundista”.
Vargas Llosa afirmou que “todos os povos modernos ou antigos vivem na sua história momentos em que a razão é ultrapassada pela paixão nacionalista” que “pode ser destrutiva e feroz quando é movida pelo fanatismo e pelo racismo”.
O escritor disse que o nacionalismo é “a pior de todas as paixões, a que causou mais estragos na história”, que provocou “sangue e cadáveres” na Europa, no mundo e na Espanha.
“Estamos aqui para parar os estragos do independentismo e, por isso, hoje milhares de catalães foram para a rua, são democratas que não acreditam que sejam traidores, catalães que não consideram o adversário um inimigo, que acreditam na democracia, na liberdade, no estado de direito, na Constituição”, sublinhou Vargas Llosa.
O presidente do governo da Espanha, Mariano Rajoy, afirmou, em entrevista publicada no domingo pelo jornal “El País”, que impedirá que uma eventual declaração de independência da Catalunha produza quaisquer efeitos, rejeitando o diálogo para resolver o desafio independentista catalão, ressaltando que “a unidade da Espanha não se negocia” e “sob chantagem não é possível construir nada”.
“Espanha não vai se dividir”
Na sua primeira entrevista a um diário espanhol desde o início da crise entre Madrid e Barcelona, Rajoy assegurou que “a única coisa que existe é a ideia de que não se pode dialogar sobre a unidade da Espanha, nem intermediar nem ser objeto de mediação, nem negociar com a ameaça de romper a unidade do Estado”.
Ao longo da entrevista, ele reiterou que a Espanha “não vai se dividir” e que o governo usará “todos os instrumentos que a legislação dá” para conseguir isso, acrescentando que “quem tiver que tomar a decisão deve fazê-lo com prudência e estando consciente das consequências da decisão que tomar”.
As tensões entre Madrid e Barcelona mergulharam a Espanha na sua mais grave crise política desde o regresso à democracia, em 1977.
A crise divide a Catalunha, onde vivem 16% dos espanhóis e onde, segundo as sondagens, metade da população não defende a independência.
Justiça condenou referendo
A Justiça espanhola considerou ilegal o referendo para a independência convocado para 1° de outubro pelo governo regional catalão e deu ordem para que os Mossos d’Esquadra selassem os locais de votação.
Perante a inação da polícia catalã em alguns locais, foram chamadas forças de segurança de âmbito nacional, que protagonizaram os maiores momentos de tensão para tentar impedir o referendo, realizando batidas policiais contra eleitores e forçando a entrada em vários locais de votação ocupados de véspera por pais, alunos e residentes, para garantir que permaneceriam abertos.
A violência policial fez 893 feridos, mas, apesar da repressão, 43,03% dos 5,3 milhões de eleitores conseguiram votar, e 90,18% deles votaram a favor da independência, segundo o governo regional da Catalunha. (Com Deutsche Welle e agências internacionais)