Os Estados Unidos anunciaram nesta quinta-feira (12) sua saída da Unesco, a agência de educação e cultura da Organização das Nações Unidas (ONU). A decisão foi acompanhada por Israel, que na sequência declarou que adotará medida idêntica. Ambos apontam postura anti-israelense por parte da organização.
A decisão americana, válida a partir de 2019, não surpreende: em 2011, ainda sob o governo Barack Obama, os EUA já haviam cancelado sua contribuição financeira para a Unesco em protesto contra decisão da agência de conceder aos palestinos o status de membros plenos.
“A decisão não foi fácil e reflete as preocupações dos EUA com crescentes contas atrasadas na Unesco, a necessidade de reformas fundamentais na organização e o contínuo viés anti-Israel”, informou o Departamento de Estado americano em comunicado.
De acordo com a nota, os EUA decidiram “continuar engajados como Estado observador não membro” e manterão especialistas à disposição da organização.
Em 2011, o fim da contribuição americana representou um corte de mais de 20% (US$ 80 milhões) no orçamento da instituição, que teve de adotar medidas de austeridade. Houve redução, por exemplo, em pesquisas sobre tsunami e em programas de educação relacionados ao Holocausto.
A diretora-geral da Unesco afirmou que a decisão dos EUA representa uma derrota para o multilateralismo e para a família ONU. “Após receber a notificação oficial do secretário de Estado dos EUA, Rex Tillerson, como diretora-geral da Unesco eu quero expressar meu profundo pesar com a decisão dos EUA de se retirarem da Unesco”, afirmou Irina Bokova, em comunicado.
Em julho passado, a Unesco causou irritação em Israel – firme aliado dos EUA – ao declarar Hebron e os dois santuários adjacentes – a judaica Tumba dos Patriarcas e a muçulmana Mesquita de Ibrahimi – um patrimônio palestino.
A decisão levou Israel a reduzir ainda mais seu financiamento à ONU. Na ocasião, se tratou do quarto corte no último ano: a contribuição do país à ONU foi de 11 para só 1,7 milhão de dólares no intervalo de um ano. Cada redução foi antecedida de uma decisão da Unesco relacionada a locais históricos em territórios palestinos.
O governo do premiê Benjamin Netanyahu, ao anunciar a saída israelense da Unesco, classificou a decisão americana como “brava e moral”.
Efeito Trump
A Unesco emprega mais de 2 mil funcionários, a maioria em Paris, e busca por relevância num momento que enfrenta dificuldades devido a rivalidades regionais e falta de dinheiro. Atualmente, a organização está selecionando um novo diretor.
O anúncio americano enfatiza o ceticismo expressado por Trump sobre a real necessidade de o país permanecer em organizações multilaterais. Ele chegou ao poder com a política protecionista “América primeiro”, ou seja, os interesses nacionais estariam acima de compromissos internacionais. O que mostra o pensamento deturpado do presidente norte-americano, que continua fazendo da Casa Branca um estúdio de reality show.
Desde que assumiu a presidência, Donald Trump abandonou a Parceria Transpacífico (TPP), acordo comercial assinado por 12 países que criaria a maior área de livre-comércio do planeta, e o Acordo do Clima de Paris. Washington está ainda analisando sua participação no Conselho de Direitos Humanos da ONU, o qual também acusou de ser anti-Israel.
“A ausência dos Estados Unidos ou qualquer outro grande país com poder é uma grande perda. Não é apenas por dinheiro, mas por promover ideais que são vitais para países como os EUA, como educação e cultura”, afirmou um diplomata da Unesco.
Por diferentes razões, Reino Unido, Japão e Brasil estão entre os países que ainda estão em débito com a organização neste ano.
Uma antiga representante da Rússia na Unesco afirmou que a agência está melhor sem os Estados Unidos. “Nos últimos anos, eles não têm utilidade para a organização. Desde 2011, eles praticamente não contribuíram com o orçamento”, argumentou Eleanora Mitrofanova. (Com Deutsche Welle)