No retorno ao Senado, o enrolado Aécio Neves abusa da desfaçatez ao dizer que é vítima de “armação”

(André Coelho – Agência O Globo)

Não bastasse o momento pífio e vergonho que vive a política brasileira, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) abusou da dissimulação ao retomar o mandato nesta quarta-feira (18), algo possível somente porque o Senado patrocinou mais uma ópera bufa na noite anterior.

Em seu retorno, Aécio disse que não guarda rancor, mas, após atacar o Mistério Público Federal (MPF), alegou ser vítima de uma “ardilosa armação”. O parlamentar mineiro afirmou que provará sua inocência, algo difícil diante das provas colhidas durante as investigações.

“Será no exercício do meu mandato que irei me defender das acusações absurdas e falsas que tenho sido alvo. Vítima de uma ardilosa armação, uma criminosa armação”, disse Aécio em seu primeiro discurso após a retomada do mandato eletivo.

Ao falar sobre o fato de não guardar rancor ou ódio, o senador tucano foi além em sua ousadia e disse ser alvo de “vis ataques”. “Fui alvo dos mais vis ataques nos últimos dias, mas não retorno a esta Casa com rancor e com ódio. Vim acompanhado da serenidade dos homens de bem e daqueles que conhecem a sua própria história. E a minha história é digna”, declarou.


Presidente licenciado do PSDB, Aécio Neves deveria rever o enredo que criou para justificar seu envolvimento com o empresário Joesley Batista, pois ninguém que cobra propina de R$ 2 milhões pode ser tratado com deferência, muito menos abusar da capacidade de raciocínio dos brasileiros e querer emplacar um roteiro mambembe que sequer serve para novela de quinta.

Se o dinheiro recebido de Joesley fosse realmente fruto de um empréstimo, como alegou o senador, a quantia deveria ter sido repassada ao tomador por meio de transferência bancária, não entregue em malas que em seguida foram levadas a Belo Horizonte.

De igual modo, a alegação de que a quantia (R$ 2 milhões) seria usada para pagar os honorários do advogado que o defende no âmbito da Operação Lava-Jato não convence, pois criminalistas chamados de “primeira linha” não cobram menos de R$ 5 milhões para defender políticos encalacrados em escândalos de corrupção.

Caso a cúpula do PSDB não despejar definitivamente Aécio Neves do comando do tucanato, o partido mandará ao ralo o resto da credibilidade que ainda lhe resta e permite que alguns tucanos sonhem com dias melhores, em especial nas eleições de 2018.

apoio_04