Volta, mas sai. Essa é a fórmula adotada pelo PSDB, em especial o do Senado, para salvar o enrolado Aécio Neves (MG), que ainda está presidente licenciado do partido. Acusado de crimes envolvendo o empresário Joesley Batista, inclusive a cobrança de propina no valor de R$ 2 milhões, Aécio estava afastado do mandato desde o final de setembro por determinação da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF).
Ao retornar à atividade legislativa, Aécio Neves usou o microfone do plenário do Senado para dizer que é vítima de “ardilosa armação”, como se a opinião pública não soubesse como funciona a política nacional. Ademais, aqueles que conhecem e frequentam os escaninhos do poder em Brasília sabem que o discurso do senador tucano foi mais uma farsa em meio a tantas.
O senador mineiro deveria não apenas deixar o comando da legenda, algo reivindicado há tempo, mas renunciar ao mandato, antes que sua teimosia promova estrago ainda maior nas bases do tucanato. Ciente de que se fizer isso acabará nas mãos de um juiz federal de primeira instância, Aécio insiste em destilar seu falso “bom-mocismo” como forma de continuar em liberdade. Algumas alas de tucanos exigem a imediata saída do senador mineiro da presidência do partido.
Enquanto, do outro lado do Congresso Nacional, prega moralidade e ética no caso da segunda denúncia contra Michel Temer, acusado de obstrução à Justiça e organização criminosa, o PSDB aceitou a ajuda do Palácio do Planalto para salvar Aécio Neves. Até porque, caso o Senado confirmasse o afastamento do neto de Tancredo Neves, o impacto na legenda seria devastador.
É preciso ser coerente e exigir isonomia por parte dos políticos, o que não é fácil, pois não se pode aceitar um comportamento dual e conflitante como vem ocorrendo nas últimas semanas. Líder do PSDB na Câmara dos Deputados, Ricardo Tripoli trabalha abertamente para distanciar o partido das confusões envolvendo Michel Temer. Mesmo assim, na última terça-feira (17), Tripoli circulava com desenvoltura no plenário do Senado, enquanto avançavam as negociações para salvar Aécio.
Faz-se necessário destacar que o placar não invalida uma vitória, mesmo que de Pirro, mas o resultado de uma votação pode comprometer o dia seguinte. Precisando de 41 votos para retornar ao Senado, Aécio conseguiu três a mais do que o mínimo necessário, o que mostra que sua alegada inocência não era unanimidade, como continua não sendo. O cenário da esperada votação era de tamanha apreensão, que senadores ausentes por motivos de saúde foram chamados às pressas para evitar o pior.
Apesar dos muitos discursos marcados pelo falso moralismo, a maioria defendendo o respeito à Constituição Federal e ao Estado Democrático de Direito, o que se viu no Senado foi uma decisão absurda de quem resiste a cortar na própria carne. Aécio Neves voltou ao mandato e o criminoso status quo está garantido por mais algum tempo, mas o prejuízo resultante dessa decisão será implacável.
Tanto é assim, que Aécio já pensa na possibilidade de concorrer à Câmara dos Deputados para preservar o foro privilegiado. Em suma, a casa caiu muito antes da farsa, mas ninguém ousa enfrentar a realidade. É esperar para ver.