Em Seul, Trump adota discurso dual sobre a Coreia do Norte para não matar a “galinha dos ovos de ouro”

(J. Mitchell – Getty Images)

Nada pode ser mais grotesco do que o comportamento do presidente dos Estados Unidos, o bufão Donald Trump, um frouxo que insiste em posar de valente-mor do universo. Há algumas semanas, Trump disse que a força era a única solução para encerrar o conflito com o ditador norte-coreano Kim Jong-un, que irritou Washington e colocou o planeta em alerta na esteira do lançamento de mísseis balísticos.

Como se diplomacia fosse sinônimo de força e brutalidade, Donald Trump chegou ao ponto de desautorizar o secretário de Estado dos EUA, Rex Tillerson, defensor do diálogo com o autoritário e fechado regime de Pyongyang.

Em viagem à Ásia, Trump, durante visita oficial a Seul, disse que a Coreia do Norte representa uma “ameaça global que requer ação global”, sugerindo que o governo norte-coreano deve retornar à mesa de conversações.

“Convocamos todas as nações responsáveis, incluindo China e Rússia, a exigir que o regime norte-coreano encerre seu programa de armas e mísseis nucleares”, disse o republicano, após ter afirmado, no Japão, que estava chegando ao fim sua paciência com Kim Jong-un.

Trump adotou uma postura mais diplomática que a de costume, pedindo que o regime do líder norte-coreano Kim Jong-un “faça a coisa certa” e retorne à mesa de negociações para “chegar a um acordo que seja bom para as pessoas da Coreia do Norte e de todo o mundo”.

“Estamos atingindo grandes progressos”, afirmou ao lado do presidente sul-coreano, Moon Jae-in, um adepto confesso do diálogo.


Ao mesmo tempo, Trump alertou que os EUA estão prontos para utilizar toda sua capacidade militar para impedir que a Coreia do Norte se torne uma potência nuclear. “Esperamos, por Deus, que nunca tenhamos que fazê-lo”, disse.

A Coreia do Sul estendeu o tapete vermelho para Trump em busca de garantias em relação à aliança com os EUA. Contudo, enquanto Trump ameaçou utilizar “fogo e fúria” contra a Coreia do Norte, o sul-coreano, ciente de que os mísseis do vizinho podem atingir Seul, vem pregando a diplomacia.

“Não deve haver qualquer ação militar na Península sem nosso consentimento prévio”, afirmou, em discurso ao Parlamento sul-coreano na semana passada.

O líder americano, por sua vez, prometeu trabalhar com o “gentil cavalheiro” sul-coreano, apesar das diferenças em relação à Coreia do Norte. “No final, vai dar tudo certo”, disse Trump. “Sempre dá certo. Tem que dar certo.”

Esse discurso ambíguo tem explicação. Donald Trump sabe que lidar com Pyongyang à base da força colocará toda a região sob risco, o que seria catastrófico para aliados importantes dos EUA, como Coreia do Sul e Japão. Ou seja, o dialogo é a melhor saída a essa altura dos acontecimentos.

Por outro lado, Trump precisa do palavrório belicoso porque o governo de Seul tem nos Estados Unidos o seu mais importante fornecedor de equipamentos e aviões militares. Em suma, o presidente dos EUA não pode matar a chamada “galinha dos ovos de ouro”. (Com agências internacionais)

apoio_04