Entremeada pelo feriado da República, a semana termina com alguns episódios dantescos em termos políticos. Mesmo assim, é importante lembrar que o brasileiro continua sofrendo de devastadora preguiça quando o assunto é política, sem contar a busca insistente por soluções imediatas e radicais.
Sabem os leitores que o UCHO.INFO passa ao largo do sensacionalismo jornalístico, pois temos consciência da nossa responsabilidade diante da sociedade como profissionais de comunicação. Isso significa que não apelamos à bizarrice informativa apenas para elevar a audiência.
Viver em democracia, ao contrário do que parece, é tarefa árdua e exige vigilância constante, algo que muitos brasileiros não estão dispostos a enfrentar. Por isso a opção por soluções extremistas que atentam contra a liberdade.
Um dos assuntos mais comentados da semana que ora termina foi o fato de o petista José Dirceu de Oliveira e Silva, condenado no Mensalão do PT e no Petrolão (32 anos de prisão), ter sido flagrado dançando durante festa em comemoração ao aniversário da esposa. Registrado por um dos convidados, o vídeo em que José Dirceu aprece dançando causou furor na internet.
Não se pode esquecer que dar importância a um fato menor como esse está longe de ser jornalismo sério. Aliás, pior ainda é discorrer sobre o assunto, como se esse merecesse análises mais profundas por parte de supostos “especialistas” em política.
O UCHO.INFO preferiu não apenas ignorar a divulgação do fato, mas aguardar a reação da opinião pública diante dos comentários dos gênios (sic) do jornalismo brasileiro. Alguns ousaram afirmar que ao dançar com a esposa José Dirceu estava a debochar da população. Pelo que sabe, Dirceu foi condenado no escopo da Operação Lava-Jato e está submetido a algumas restrições enquanto recorre em liberdade, mas não se tem notícia que a sentença condenatória o proíbe de dançar.
A forma descontraída e alegre com que José Dirceu rodopiava com a mulher foi considerada afrontosa por muitos, mas não há qualquer dose de ilegalidade no fato de o ex-comissário palaciano ter se divertido em uma festa de aniversário. O que não significa que o ato em si represente o culto à impunidade.
Em vez de se preocupar com detalhes pífios, as vedetes do atual jornalismo brasileiro deveriam acionar o interruptor da inteligência e informar à sociedade detalhes mais escandalosos acerca de José Dirceu.
Acusado de embolsar milhões de reais em propina, dinheiro que foi camuflado com supostas consultorias, Dirceu ainda não explicou como consegue custear uma defesa tão badalada e cara. Frequentador do círculo dos mais festejados e requisitados criminalistas, Roberto Podval, responsável pela defesa de Dirceu, é um profissional do Direito cujos honorários são para poucos.
Um renomado criminalista que advoga para réus da Lava-Jato cobra honorário de R$ 1 milhão quando o caso é considerado pouco comprometedor e de fácil solução. Nos casos mais complexos, como o de José Dirceu, criminalistas cobram, no mínimo, R$ 5 milhões para abraçar a causa.
Sem trabalhar desde que foi preso na esteira da Ação Penal 470 (Mensalão do PT), José Dirceu certamente está pagando os criminalistas que o defendem, pois se assim não tivesse feito já teria sido abandonado pelos advogados, para quem o crime sempre compensa.
Dar importância ao bailado de José Dirceu é algo tão ridículo e pífio, principalmente em termos jornalísticos, que acaba ajudando um dos chefes do maior esquema de corrupção de todos os tempos. Por certo seria melhor que os brasileiros estivessem preocupados em descobrir a origem dos recursos usados por Dirceu para pagar os advogados, que já chegaram a afirmar nos bastidores que o UCHO.INFO só atrapalha a vida deles. Sendo assim, lembramos que o nosso conceito de jornalismo é diferente.
