Quem acompanha a política nacional há algum tempo sabe que a disputa antecipada no âmbito da eleição presidencial é atitude típica de quem não é do ramo ou está mergulhado na vala do desespero. Com um ano de antecedência, só entra nessa “briga de foice” quem é calouro ou teme pela derrota.
O apresentador Luciano Huck, da TV Globo, há muito frequenta as especulativas pesquisas de opinião sobre quem será o próximo presidente da República, mas é preciso lembrar que popularidade alta e simpatia por parte do eleitorado não são passaporte para a vitória. De igual modo não garante um bom mandato, caso o candidato arranque uma vitória das urnas.
Cidadão brasileiro nato e reunindo todas as condições de concorrer a qualquer cargo eletivo, Huck é um “outsider”, mas está longe de ser o candidato ideal para uma nação atropelada pela corrupção e nocauteada por crise econômica sem precedentes.
Diante desse cenário de dificuldade que deve perdurar nos próximos anos, Luciano Huck deve anunciar em breve, talvez ainda nesta sexta-feira (24), que está fora da corrida ao Palácio do Planalto. Alguns jornalistas garantem que essa decisão, se confirmada, não significa que o apresentador não possa retomar mais adiante os planos políticos.
Encantados com Huck, PPS e Democratas já ofereceram as respectivas legendas para que o apresentador concorra à Presidência da República no próximo ano. O que Luciano Huck precisa saber é que governar o Brasil não é tarefa tão simples quanto comandar um programa de auditório, que, vale lembrar, é desafio para poucos.
É louvável o desejo de mudança que o apresentador cultiva em relação à realidade brasileira e ao futuro do País, mas antes de qualquer decisão mais arrojada é preciso que Luciano avalie o perfil do Congresso Nacional a partir de 2019. Afinal, o Brasil é uma democracia representativa e sem a aquiescência do Parlamento nenhum presidente governa, a não ser que o ocupante do cargo seja um golpista.
Considerando que pífia reforma política aprovada pelo Congresso não passou de um arranjo eleitoral de última hora para garantir a manutenção do status quo, o próximo presidente da Repúbica terá sobre a escrivaninha palaciana pelo menos dois grandes problemas: uma economia ainda cambaleante e um Parlamento corporativista e chantagista, acostumado ao banditismo político.
É furada a tese de que uma eventual desistência da disputa presidencial dá a Luciano Huck a oportunidade de retomar o plano político nos próximos meses. A realidade é bem diferente do que afirmam alguns supostos especialistas em política.
Tecnicamente Huck tem até o final de março do próximo ano para se filiar a um partido político e, na sequência, anunciar sua possível candidatura à Presidência. Na esfera comercial a situação não é tão simples, principalmente porque o tempo urge. A TV Globo definirá dentro de alguns dias a grade de programação da emissora de 2018, por isso precisa saber com antecedência os programas que serão mantidos no ano vindouro. Afinal, os anunciantes precisam saber onde investir as verbas publicitárias.
No caso de Luciano Huck decida concorrer à Presidência, não apenas ele terá de deixar a emissora carioca, mas também a apresentadora Angélica, sua mulher. Calculadora sobre a mesa e mão na consciência, a melhor decisão que o casal de apresentadores pode tomar a essa altura dos acontecimentos é continuar fazendo aquilo que sabe.
Se o apresentador Silvio Santos, dono de considerável popularidade, não aceitou esse desafio há 28 anos, mesmo depois de dizer que era candidato à Presidência, não há razão para Luciano Huck embarcar nesse barco furado.