Marina Silva acertou ao afirmar que em termos eleitorais Lula depende da candidatura do radical Bolsonaro

Gostem ou não de Marina Silva, não se pode discordar da líder da Rede Sustentabilidade, que, em entrevista à revista Veja, afirmou estar Lula dependente política e eleitoralmente da candidatura de Jair Bolsonaro, o radical que agora posa de longevo e incondicional defensor da democracia.

Perguntada sobre quem apoiaria em eventual segundo turno – Lula ou Bolsonaro –, Marina respondeu: “Um se tornou o cabo eleitoral do outro. Um não sobrevive sem o outro. Em apoio a quebra da polarização, e Lula e Bolsonaro são os dois extremos, de esquerda e direita”.

Marina Silva colecionou ao longo da carreira política uma crescente legião de desafetos no âmbito eleitoral, mas é preciso reconhecer que a ex-senadora está coberta de razão. Prestes a ser condenado em segunda instância e preso por corrupção e outros crimes, Lula precisa de um contraponto para sobreviver como candidato, se é que isso ainda é possível.


O pensamento de Marina acerca do tema é correto e tem precedentes na história política brasileira. O desmonte do PSDB ganhou força a partir do momento em que o Partido dos Trabalhadores entrou em uma espiral de escândalos de corrupção, cenário acentuado pelo impeachment de Dilma Rousseff e pela gravíssima crise econômica.

Sem ter com quem fazer o contraponto, o tucanato começou a definhar politicamente, a ponto de seus expoentes acumularem impressionantes índices de rejeição. Por isso, Lula precisa de uma candidatura de extrema direita para tentar manter seu desejo de mais uma vez concorrer ao Palácio do Planalto.

Mas essa dependência não é uma exclusividade de tucanos e petistas. Voltando na linha do tempo, o polêmico Jânio Quadros começou a desidratar politicamente quando Adhemar de Barros morreu, em 12 de março de 1969. Disse Jânio à época: “O sacana morre e não me avisa”.

Por questões óbvias a esquerda verde-loura reagiu à declaração de Marina Silva, mas não há o que fazer diante da realidade dos fatos. Afinal, Lula e Bolsonaro não têm o que oferecer ao eleitorado, a não ser o impossível, não sem antes ser um dependente do outro e vice-versa.

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