Querer descobrir como alimentos proibidos chegaram à cela de Cabral é misto de piada pronta e deboche

A decisão do Ministério Público Federal de investigar como o ex-governador Sérgio Cabral Filho (PMDB), do Rio de Janeiro, tinha em sua cela, na cadeia pública de Benfica, alimentos proibidos e de luxo, é mais um deboche por parte das autoridades, que fingem desconhecer a realidade do sistema prisional brasileiro.

Não é preciso dose extra de raciocínio para descobrir que Cabral Filho conseguiu regalias, não apenas gastronômicas, porque alguém lucrou com essa bizarrice. Esse tipo de situação não é novidade, especialmente porque, além de alimentos proibidos, presos conseguem manter em suas celas telefones celulares, bebidas alcoólicas, drogas, eletrodomésticos e outras regalias. Sem contar que vez por outra presos recebem garotas de programa para noitadas regadas a sexo, drogas e bebidas.

Certa feita, em um distrito policial da capital paulista, uma delegada de polícia jantou com os presos não perigosos dentro da cela e saboreou tenros “filés a parmegiana” encomendados pelos detentos em uma renomada cantina italiana. Na mesma delegacia, um ex-ministro da Justiça, que à época comandava badalada banca de advocacia criminal, negociou com os policiais o ingresso de um celular para o uso de seu cliente. Tudo ao módico preço de R$ 15 mil.


O mesmo advogado negociou com os policiais a ida do cliente ao motel para uma tarde de amor e sexo com a esposa. Sem contar que o criminalista em duas ocasiões tirou o preso da cela e levou-o para jantar, com a promessa de devolvê-lo ao delegado horas depois.

Entre os muros de muitos presídios há o comércio clandestino que funciona com a conivência criminosa de agentes penitenciários, os quais recebem para fechar os olhos diante das ilegalidades. Uma garrafa de aguardente, por exemplo, custa no mínimo R$ 100. Cigarros também são vendidos a peso de ouro aos presidiários, assim como cocaína, droga usada com largueza nas penitenciárias brasileiras.

No momento em que inúmeras autoridades foram parar atrás das grades, errou grosseiramente quem imaginou que a corrupção prisional cessaria apenas porque os presos foram apanhados no escopo da Operação Lava-Jato e seus apêndices. Foi a partir da prisão de endinheirados acostumados a mordomias é que o negócio ilícito ficou ainda mais lucrativo.

A anunciada investigação chegará à conclusão que todos já sabem e punirá apenas os corruptores, pois os corrompidos negarão qualquer ilícito. Resta saber como os alimentos encontrados na cela de Sérgio Cabral entraram na cadeia pública de Benfica, uma vez que revistas são obrigatórias.

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