Presidente dos Estados Unidos, o mimado e irresponsável Donald Trump anunciou, nesta quarta-feira (6), que decidiu transferir a embaixada americana em Israel de Tel Aviv para Jerusalém, um passo arriscado que desde já coloca em risco futura solução de paz no Oriente Médio, segundo alertou a comunidade internacional. Não obstante, a decisão servirá de combustível para os conflitos na região, sem contar a reação de radicais contrários à medida.
A decisão tem um peso tão perigoso quanto importante: com a mudança de endereço, Washington passa a reconhecer Jerusalém – cidade marcada por frágil coexistência entre israelenses e palestinos – como a capital de Israel, contrariando o posicionamento de seus aliados árabes e ocidentais.
O apasquinado Trump (na foto ao lado do premiê israelense Benjamin Netanyahu) anunciou a decisão em discurso aguardado na Casa Branca, ordenando que o Departamento de Estado americano dê início ao longo processo de transferência, fazendo com que os EUA passem a ser o único país em todo o mundo a assumir Jerusalém como sede do governo israelense.
“Eu determinei que é hora de reconhecer oficialmente Jerusalém como capital de Israel”, declarou o presidente, descrevendo a decisão como “atrasada”. Ele ainda afirmou que a medida apenas reconhece o “óbvio”: que a cidade disputada é sede do governo israelense. “Não é nada mais que o reconhecimento da realidade.”
Apesar dos alertas de líderes estrangeiros, Donald Trump destacou que os EUA seguem profundamente comprometidos em ajudar a facilitar um acordo de paz que seja satisfatório tanto para israelenses como para palestinos. “Farei tudo em meu poder para ajudar a firmar tal acordo”, disse.
Estima-se que pelo grande número de funcionários da embaixada – cerca de mil – e das dificuldades de se encontrar um lugar para a construção de uma nova sede, levando-se em conta as preocupações com segurança e logística, o processo de mudança deverá levar de três a quatro anos.
Uma lei americana de 1995 já estabelece a transferência da embaixada americana para Jerusalém, mas a medida nunca foi aplicada. Os presidentes Bill Clinton, George W. Bush, Barack Obama e o próprio Trump adiaram sua implementação a cada seis meses, alegando “interesses nacionais”.
Mais cedo, antes do discurso, o presidente americano afirmara que a decisão de reconhecer Jerusalém como capital israelense “deveria ter sido tomada há muito tempo”. “Muitos presidentes disseram que queriam fazer algo, mas não o fizeram, talvez por falta de coragem ou porque mudaram de opinião”, declarou o presidente a repórteres durante uma reunião com seu gabinete. Com esse anúncio, Trump joga para a sua plateia de eleitores radicais, entre os quais alguns dos principais financiadores de sua campanha.
Enquanto isso, líderes árabes e muçulmanos debatiam a possível escalada de violência na região. Em Gaza, centenas de manifestantes palestinos queimaram bandeiras dos EUA e de Israel e ergueram cartazes proclamando Jerusalém sua “capital eterna”, expressão comumente usada por israelenses.
Cidade disputada
Jerusalém é tida como a capital do Estado judeu desde a antiguidade e é atualmente a sede do governo israelense, apesar de nunca ter sido reconhecida internacionalmente como capital.
Israel considera a Cidade Sagrada a sua capital “eterna e indivisível”, enquanto os palestinos defendem que a porção leste de Jerusalém deve ser a capital de seu almejado Estado, sendo este um dos maiores desentendimentos entre as duas partes.
A Organização das Nações Unidas (ONU) estabelece que o status de Jerusalém deve ser definido em negociações entre israelenses e palestinos, razão pela qual os países com representação diplomática em Israel têm suas embaixadas em Tel Aviv e imediações.
A transferência da embaixada americana para a cidade disputada foi antecipada por Trump durante a campanha eleitoral e, nesta terça-feira, ele confirmou sua intenção ao presidente da Autoridades Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, e ao rei da Jordânia, Abdullah II, por telefone.
A notícia logo provocou reações consternadas na comunidade internacional. Líderes de diversos países, bem como a União Europeia (UE) e a Liga Árabe, expressaram intensa preocupação de que a medida possa prejudicar a estabilidade da região.
Muitos acreditam que a medida poderá minar por completo o papel dos EUA como mediador da paz no Oriente Médio, além de, como mencionado no início desta matéria, insuflar as atuais crises em países como a Síria, Iraque, Iêmen e Catar.
Em telefonema com Trump, Abbas alertou o presidente americano para “consequências perigosas” de tal decisão para os esforços de paz no Oriente Médio, bem como para a segurança e estabilidade da região, segundo informou um porta-voz da ANP.
A Liga Árabe alertou que o reconhecimento de Jerusalém como capital é visto como uma “agressão clara à nação árabe, os direitos dos palestinos e de todos os muçulmanos e cristãos”, e pode causar uma nova escalada de violência na região.
A União Europeia, por sua vez, destacou que “qualquer ação que possa prejudicar” os esforços para a criação de dois Estados para israelenses e palestinos “deve ser absolutamente evitada”.
“Devemos encontrar um caminho por meio do diálogo para resolver a questão de Jerusalém como futura capital dos dois Estados, de forma que se possa fazer cumprir as aspirações de ambas as partes”, disse a chefe da diplomacia da UE, Federica Mogherini.
Após o primeiro conflito árabe-israelense (1947-49), a Cisjordânia e Jerusalém Oriental ficaram sob o domínio da Jordânia, e a parte ocidental da cidade ficou sob o domínio de Israel.
Durante a Guerra dos Seis Dias, em 1967, os israelenses reconquistaram Jerusalém Oriental – que, à época, era praticamente toda habitada por palestinos –, uniram-na à parte ocidental da cidade, ocupada por judeus, em 1980 e declararam Jerusalém a capital indivisível de Israel. (Com agências internacionais)