O Rio de Janeiro continua sórdido

(*) Ipojuca Pontes

Ao contrário do que diz o sambinha baiano – de indisfarçável ranço demagógico – o Rio de Janeiro continua sór-di-do (e bota sordidez nisso). Ao vasto acervo de misérias que o degradam há mais de quatro décadas, ajunta-se agora o anúncio feito por Lula, no Teatro Casa Grande (velho terreiro da esquerda “festiva”), da candidatura de Celso Amorim, o “Celsinho da Embrafilme”, ao cargo de governo do Estado do Rio de Janeiro. É karma. Como já escrevi antes, Amorim é o antidiplomata que o Brasil teria a obrigação de desterrar, mas que nenhum país democrático do mundo poderia receber.

Falo adiante sobre o “desastre” Amorim, mas, antes, devo informar ao leitor que atuo no Rio como jornalista desde os áureos tempos de Carlos Lacerda, governador excepcional, probo, corajoso e realizador que, no Rio Janeiro (à época, Estado da Guanabara), fez quase tudo que nele há de importante, ainda hoje, lá se vão quase 60 anos!

Embora sem a mesma grandeza de Lacerda, cito, de memória, alguns governadores corretos, entre eles, Negrão de Lima, ex-prefeito da antiga Capital Federal, que se interpôs à bagunça comunista; Floriano Faria Lima, administrador objetivo na integração da cidade ao interior do Estado, tarefa árdua, além de construir viadutos, obras do Metrô e, na base, as usinas nucleares de Angra dos Reis; e ainda Chagas Freitas, que durante dois mandatos dialogou com os militares e empreendeu milhares de obras – e que, por isso mesmo, era odiado por Ulysses Guimarães, múmia politiqueira que nos legou uma constituição de direitos sem haveres – vale dizer, uma mixórdia que tornou o país ingovernável.

Mas quem marcou fundo a esculhambação assumida que impera hoje no Rio foi, em definitivo, Leonel de Moura Brizola, o “Engenheiro do Caos”, caudilho rocambolesco que introduziu no pedaço o permissivo “socialismo moreno”, prática política que consolidou a transformação das favelas em território livre para a exploração do narcotráfico e do contrabando de armas – ambos oficialmente imunes ao combate policial. Seus acólitos iam do malandro Carlos Imperial ao folclórico Cacique Juruna, passando por Agnaldo Timóteo, César Maia e Garotinho até chegar a Darcy Ribeiro (“louco de pedra”) e Saturnino Braga, economista da Cepal que, eleito prefeito, decretou a falência da cidade e em seguida, por incompetência, abandonou (chorando) o cargo.

Depois do caudilho Brizola vieram os socialistas Moreira Franco (apelidado de “Vira-Bosta”, pássaro dos pampas, pelo próprio Brizola); Marcelo “Velho Barreiro” Alencar; Anthony “Trêfego” Garotinho e a consorte Rosinha; Sérgio Cabral (formado pela Juventude Comunista na decoreba de “O Estado e a Revolução”, do também assaltante Vladimir Lênin) e Luiz Fernando Pezão, herdeiro de Cabral, conhecido intramuros como “Mãozão” – todos, sem exceção, investigados, processados e alguns até condenados por ladroagem, corrupção, falsidade ideológica, formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e crimes de igual teor. O mais vil, Sérgio Cabral, mitificado pela mídia esquerdista enquanto candidato eleito (duas vezes), era o anfitrião de festas romanas rigorosamente “privês” oferecidas ao chefão Lula, o Chacal, no seu Taj Mahal de Mangaratiba.

No seu livro “Leviatã”, Thomas Hobbes, teórico político inglês do século XVIII, profetiza o advento de uma sociedade na qual prevaleceria a “guerra de todos contra todos”. Toucheé!

É exatamente o que se passa no Rio de Janeiro de hoje, desgovernado ao longo dos anos por mandatários socialistas absortos em propagar “direitos humanos, igualdade e justiça social”. De fato, fracionado em centenas de campos de batalha, a cada minuto policiais enfrentam bandidos bem armados, que, por sua vez, tocam fogo nas falidas UPPs (invenção e objeto do marketing cabralino) e matam militares aos magotes. Em meio a permanentes rajadas de metralhadoras, granadas e tiros de fuzil, morrem homens, mulheres, velhos e crianças vítimas de “balas perdidas” – que de perdidas não têm nada.

Por sua vez, com a mídia local voltada para a divinização de lésbicas, gays, bissexuais e travestis (LGBT) e a fervorosa campanha pela liberação da droga, o Rio aflito vive no sufoco vitimado por “sequestros relâmpago”, arrastões em praias e zonas comerciais, assaltos a restaurantes, bares, lojas e hotéis. Nos últimos tempos, intensificaram-se as explosões de caixas eletrônicos e os sequestros de caminhões transportadores de alimentos e produtos eletrônicos, embora o comunista Raul Jungmann, barbudinho ministro da Defesa, apareça toda hora nas TVs prometendo o controle dos assaltos e saques pelas tropas do Exército – saques que se sucedem, em rotina monótona, pelo menos seis vezes por dia.

Inútil assinalar ainda que o Rio, cidade de limpeza urbana ocasional, está catalogado pela Agência TripAdvisor International como “uma das dez cidades turísticas mais sujas do mundo”, ao lado de Bangkok e Bombaim, urbes 100% putrefatas. Nas suas calçadas e sob viadutos, vegetam cerca de 90 mil zumbis, alcoolizados ou maconhados e famintos, num vai e vem sem fim. Pior: nas regiões serranas, chuvas mais prolongadas colocam cidades como Petrópolis, Teresópolis e Friburgo à mercê de desabamentos fatais pelo deslizar de encostas sobre casas e barracos. Em geral, como as verbas oficiais são roubadas pelos prefeitos não há ação preventiva nem apoio aos deserdados da sorte.

Voltando ao “desastre” Amorim – o candidato do condenado Lula ao governo do Rio de Janeiro –, descobri que o espaço ficou exíguo para relatar parte mínima de suas “proezas”. Fica para o próximo artigo.

(*) Ipojuca Pontes, ex-secretário nacional da Cultura, é cineasta, destacado documentarista do cinema nacional, jornalista, escritor, cronista e um dos grandes pensadores brasileiros de todos os tempos.

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