Reino Unido expulsa 23 diplomatas russos após envenenamento de ex-espião na Inglaterra

A primeira-ministra britânica, Theresa May, anunciou nesta quarta-feira (14) as mais duras retaliações diplomáticas contra Moscou desde a Guerra Fria, após o ataque ao ex-espião russo Sergei Skripal e sua filha, envenenados na Inglaterra com um agente químico que afeta o sistema nervoso.

As medidas incluem a expulsão de 23 diplomatas russos do país – o maior número de expulsões em três décadas – por suspeita de envolvimento em atividades de inteligência no Reino Unido, além de ações para desmantelar o que chamou de “rede de espionagem russa” no país. Os membros da diplomacia russa têm uma semana para deixar o Reino Unido.

Em pronunciamento ao Parlamento britânico, May culpou diretamente o Estado russo pelos envenenamentos. Ela mencionou um “padrão de agressões russas em solo europeu” e anunciou que medidas deverão ser tomadas para evitar essas práticas.

“Será a maior expulsão de diplomatas em 30 anos, e reflete o fato de não ser a primeira vez que o Estado russo age contra este país”, disse a premiê britânica. “Com essas expulsões, vamos fundamentalmente degradar a capacidade de inteligência russa no Reino Unido por anos. E, se eles tentarem reconstruí-la, vamos agir para evitar que o façam.”

A primeira-ministra anunciou o reforço das defesas contra atividade de “países hostis” em solo britânico, incluindo o monitoramento e rastreamento de pessoas suspeitas que viajam ao país, inclusive com o reforço da vigilância aos voos com destino ao Reino Unido.

May anunciou a suspensão dos contatos de alto nível entre os dois países, inclusive com o cancelamento de uma visita do ministro russo do Exterior, Sergei Lavrov. Ministros britânicos e membros da família real não viajarão à Rússia durante a Copa do Mundo de Futebol.

Moscou promete retaliação

A primeira-ministra afirmou ter conversado com os presidentes dos Estados Unidos, Donald, Trump, e da França, Emmanuel Macron, e a chanceler federal da Alemanha, Angela Merkel. Ela disse que todos concordaram em cooperar contra o que chamou de “atos bárbaros e interferências da Rússia”.

May ressaltou que algumas das medidas a serem tomadas não podem ser anunciadas por motivos de segurança pública. “É trágico que [o presidente russo Vladimir] Putin tenha escolhido agir dessa forma, mas não vamos tolerar as violações russas em solo britânico”, disse. “Não foi apenas um assassinato, mas também um afronta às diretrizes internacionais do uso de armas químicas.”

May reafirmou suas declarações anteriores de que é “altamente provável” que Moscou esteja por trás do ataque, uma vez que foi detectado que a substância que envenenou Skripal é de um tipo desenvolvido pela Rússia no fim da Guerra Fria.


A premiê havia pedido ao embaixador russo em Londres que esclarecesse a situação até o fim desta terça-feira. A embaixada havia se recusado a responder ao que chamou de “ultimato” até que Moscou tivesse acesso a amostras da substância que envenenou Skripal.

No primeiro pronunciamento do Kremlin sobre o caso, o porta-voz Dmitry Peskov declarou nesta quarta-feira que “Moscou não aceita acusações infundadas que não têm base em evidências, assim como a linguagem de ultimato” adotada por Londres.

“Esperamos que o bom senso prevaleça”, afirmou Peskov, alertando que seu país vai responder a qualquer medida de represália que possa ser adotada por Londres contra Moscou em relação ao envenenamento.

Antes da fala de May, o Ministério do Exterior russo já havia dito que “nenhuma das ameaças de sancionar a Rússia ficará sem resposta”. Lavrov insistiu que seu país não é culpado pela tentativa de homicídio e garantiu que o país está disposto a cooperar com o Reino Unido nas investigações.

O Conselho de Segurança da ONU se reunirá nesta quarta-feira para ser informado das investigações sobre a morte de Skripal. O governo britânico havia pedido a reunião em caráter de urgência.

Mais um envenenamento

O caso Skripal não é o primeiro do tipo em solo britânico. Em janeiro, um inquérito britânico sobre a morte do também ex-espião russo Alexander Litvinenko em Londres, em 2006, concluiu que o presidente da Rússia, Vladimir Putin, provavelmente aprovou a operação da inteligência russa para assassinar o outrora membro do extinto serviço secreto soviético (KGB).

O inquérito apontou que Putin e membros de seu governo, incluindo o Serviço Federal de Segurança (FSB), tinham motivos para matar o ex-agente. O Kremlin já havia sido acusado pelo assassinato Litvinenko em outras ocasiões, mas sempre negou qualquer envolvimento no caso.

Litvinenko era um crítico feroz de Putin e fugiu para Londres em 2000. Ele foi assassinado seis anos depois, após beber um chá misturado com a substância radioativa polônio-210, num hotel na capital britânica. Litnivenko morreu três semanas após tomar chá envenenado. (Com agências internacionais)

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