Ainda sem mostrar a que veio e descumprindo a promessa de completar o mandato de prefeito da maior cidade brasileira, São Paulo, João Agripino Doria Junior deixará a administração paulistana no próximo dia 6 de abril, quando mergulhará na campanha rumo ao Palácio dos Bandeirantes, sede do Executivo paulista.
Após polêmica vitória nas prévias do PSDB, Doria não apenas se consolidou como candidato oficial do partido à sucessão do governador Geraldo Alckmin, mas tratou de impedir o desmonte da equipe que o acompanha desde a posse na prefeitura de São Paulo.
Esse cenário impõe ao vice Bruno Covas, que assumirá o comando da cidade no dia 7 de abril, o uso de uma caneta sem tinta, ou seja, não poderá demitir nem nomear. A manobra capitaneada por João Doria é no mínimo estranha e descabida, pois um prefeito que não pode montar a própria equipe não merece o respeito da população.
O fato de Covas ter concordado com essa imposição causa estranheza, uma vez que sua relação com João Doria azedou nos últimos meses, com direito à demissão de algumas pessoas ligadas ao neto do ex-governador Mário Covas.
Quem acompanha a política paulistana sabe que mais da metade da prefeitura da cidade é controlada pelo governador Geraldo Alckmin, que indicou pessoas de sua confiança para cargos importantes na administração da cidade. Mesmo assim, deixar a prefeitura e querer continuar controlando a máquina municipal é um atentado à democracia.
Ao tomar essa decisão, que estranhamente não recebeu críticas de Alckmin, o ainda alcaide paulistano concede ao cidadão o direito de pensar que há algo estranho nesse drible político. Não se pode esquecer que João Doria, que abusou do discurso fácil durante os últimos quinze meses, precisa de recursos para financiar sua campanha ao governo paulista. Empreitada que consumirá muito dinheiro.
Corroído pelos efeitos colaterais dos escândalos de corrupção que chacoalham o País e enfrentando o descontentamento crescente do eleitorado, o PSDB comete um equívoco ao oficializar Doria como candidato ao governo. Afinal, Doria é considerado “cristão novo” no partido e, mesmo sendo estreante na política, vem provocando cizânias no ninho tucano.
Presidente nacional do PSDB, Geraldo Alckmin parece preguiçoso em termos político-eleitorais. Ao confirmar Doria como candidato ao Palácio dos Bandeirantes, Alckmin perde espaço não apenas no palanque do atual vice, Márcio França, que tentará a reeleição, mas no Nordeste, onde o PSB tem penetração e influência. Como a soberba tucana não tem limite, o melhor a se fazer é ver para crer.