Em jogo de cartas marcadas, até porque qualquer movimento fora do enredo oficial provocaria uma tragédia, a Assembleia Nacional de Cuba confirmou, na quinta-feira (19), a eleição de Miguel Díaz-Canel para substituir Raúl Castro na presidência do país, marcando o fim de quase seis décadas da facinorosa era Castro.
O novo presidente foi eleito com 99,83% dos votos da Assembleia Nacional, de acordo com dados da Comissão Eleitoral Nacional. Após o anúncio do resultado, os deputados cubanos aplaudiram o novo presidente, que também recebeu um aperto de mão e um abraço do truculento e dissimulado Raúl Castro.
Díaz-Canel, de 57 anos, tornou-se braço direito do atual presidente em 2013. Sua indicação para assumir o governo já era esperada. Como ele foi o único indicado, sua eleição era uma mera formalidade.
O novo presidente cubano já foi ministro da Educação Superior e aparentemente segue uma linha liberal do socialismo. Ele é considerado uma aposta segura para herdar o mandato de Castro e de outros líderes da revolução. O engenheiro nascido após a revolução deverá prosseguir a “atualização” do modelo econômico da ilha, que foi esboçada por Raúl Castro.
Pela primeira vez, o presidente do regime cubano será uma pessoa que não participou da revolução de 1959, não envergará a farda verde-oliva e não dirigirá o Partido Comunista Cubano (PCC). Ele contará, porém, com o apoio de Castro, que se manterá na liderança do poderoso partido único até 2021.
Em seu primeiro discurso na Assembleia Nacional, o recém-eleito Díaz-Canel assegurou que a política exterior da ilha se manterá inalterada e o país caribenho “não fará concessões contra sua soberania e independência”, nem “negociará seus princípios”.
O novo mandatário da ilha caribenha, um dos derradeiros e cambaleantes redutos do comunismo, também disse que Raúl Castro “vai liderar as decisões de maior transcendência para o presente e o futuro da nação”.
E Diáz-Canel foi além ao afirmar que apesar de Castro estar deixando o protagonismo da política cubana, suas opiniões terão enorme peso para o novo governo. Em outras palavras, dançaram as cadeiras, mas o poder continua nas mãos de Raúl Castro, que durante anos foi o executor das atrocidades ordenadas pelo irmão Fidel.
Juntamente com Díaz-Canel também foram eleitos os demais membros do Conselho de Estado (órgão máximo do governo em Cuba), com o veterano Salvador Valdés Mesa como primeiro vice-presidente da ilha caribenha.
Membro do politburo do Partido Comunista de Cuba e que ocupava até agora uma das cinco vice-presidências do órgão, Valdés Mesa, de 73 anos, será o primeiro vice-presidente negro do país, o cargo mais alto a ser ocupado por um afrodescendente na história cubana. (Com agências de notícias)