Donald Trump e Emmanuel Macron defendem acordo mais amplo com Irã, que rejeita mudanças

(K. Lamarque – Reuters)

Em visita oficial aos Estados Unidos, o presidente francês, Emmanuel Macron, e o republicano Donald Trump defenderam nesta terça-feira (24) um novo acordo nuclear com o Irã, depois de o presidente americano ter classificado o pacto atual de “insano”.

“Posso dizer que tivemos discussões muito francas sobre o assunto, apenas nós dois”, declarou Macron durante coletiva de imprensa ao lado de Trump, após encontro reservado entre os dois líderes. “A partir de agora, desejamos, portanto, trabalhar em um novo acordo com o Irã.”

Trump, por sua vez, disse acreditar que os países terão “uma grande chance de fazer um acordo provavelmente muito maior” do que o firmado em 2015 por seu antecessor, Barack Obama. Ele ressaltou, contudo, que qualquer novo pacto terá de ser construído sobre “bases sólidas”.

“Este é um acordo com bases decadentes. É um acordo ruim, com uma estrutura ruim. Está desmoronando”, acrescentou Trump. “Veremos o que acontece no dia 12.”

O republicano tem até 12 de maio para decidir o futuro do acordo nuclear, que envolveu um alívio das sanções internacionais ao Irã, em troca do desmantelamento do projeto atômico. As sanções são revistas periodicamente. Em 12 de janeiro, Donald Trump antecipou que aquela seria “a última vez” que manteria as sanções suspensas, deixando um rastro de incerteza sobre 12 de maio.

A visita de Macron a Washington – a primeira do francês aos EUA desde que assumiu o cargo, em 2017 – faz parte do esforço europeu para convencer o presidente norte-americano a permanecer no acordo nuclear iraniano, firmado em 2015 entre Irã, Estados Unidos, França, China, Reino Unido, Rússia e Alemanha.

O presidente da França e outros líderes europeus – como a chanceler alemã Angela Merkel, que viaja a Washington também nesta semana – têm tentado repetidamente convencer Trump a não abandonar o pacto. O inquilino da Casa Branca quer acrescentar cláusulas no acordo para torná-lo mais rígido, mas muitos de seus aliados europeus acreditam que elas representariam uma violação legal.

Nesta terça-feira, Emmanuel Macron defendeu que a revisão do acordo deveria levar em consideração três elementos adicionais: o programa de mísseis balísticos de Teerã, sua influência no Oriente Médio e o que acontecerá após 2025 – quando, sob o atual acordo, o Irã poderia reiniciar progressivamente parte de programa nuclear.

O líder francês negou que esteja pressionando por um novo acordo com o Irã, mas disse considerar o pacto inicial de 2015 como apenas o “primeiro pilar” de um eventual acordo ainda mais amplo.


Acordo “terrível”

Mais cedo, antes de iniciar sua reunião com Macron, o presidente americano classificou o acordo nuclear como “ridículo” e “terrível” e afirmou que os EUA “nunca deveriam tê-lo assinado”.

“Pode escrever. Se eles [Irã] reiniciarem seu programa nuclear, terão problemas maiores do que os de antes”, alertou Trump, que faz o jogo de Israel nessa queda de braço que assusta o Oriente Médio. Por outro lado, Teerã reiterou disposição para adotar “medidas drásticas” e retomar o programa se o presidente decidir, no próximo mês, não renovar o alívio de sanções ao país.

Donald Trump usou linguagem forte para acusar o país de ser criador de problemas em todo o Oriente Médio. “Não importa aonde você vá no Oriente Médio, o Irã parece estar por trás de todos os lugares onde há problemas”, disse o republicano ao lado de Macron.

O líder francês afirmou que o acordo com o Irã precisa ser discutido num contexto mais amplo na região. “Temos a Síria, temos eleições próximas no Iraque. Precisamos de estabilidade para preservar nossa aliança na região. O acordo é parte desse contexto”, antecipou.

Macron acrescentou que Paris e Washington têm “um objetivo comum”. “Queremos garantir que não haja escalada ou proliferação nuclear na região. Agora precisamos encontrar o caminho certo para seguir adiante.”

Irã rejeita revisão do acordo

Nesta terça-feira, o governo do Irã reafirmou que não aceitará renegociar ou alterar o acordo nuclear e acusou os EUA de agir de forma temerária ao ameaçar deixar o pacto.

Em reunião preparatória para a Conferência de Revisão do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares em 2020, o embaixador do Irã na ONU, Reza Najafi, reiterou o compromisso e a contribuição do país para o desarmamento e disse que o pacto é “um sucesso histórico da diplomacia multilateral”.

Najafi também defendeu que o Irã “implementou plenamente seus compromissos do acordo nos últimos três anos, como confirmaram em dez ocasiões os relatórios da Agência Internacional de Energia Atômica desde 2016”.

“A nossa resposta é clara e firme: não, o acordo não será renegociado ou alterado”, ressaltou o embaixador, acusando os EUA de ter violado continuamente os termos do acordo, especialmente com ações para coagir os outros participantes a descumprirem suas promessas. (Com agências internacionais)

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