Chegou a hora da bobeira

(*) Carlos Brickmann

O presidente Temer luta hoje não para que o café venha quente, mas que pelo menos venha. O Congresso obteve de Temer cada cargo e cada verba que ele conseguiu arranjar; já não tem interesse em votar nada e só pensa em se afastar de um presidente impopular (além disso, há as festas juninas e a Copa do Mundo). Hoje o Congresso só pensa em Tite e na Federal. Estamos naquela fase que os americanos chamam de silly season, período tolo: não há o que discutir, mas é preciso fingir que o Congresso trabalha.

Hoje, supõe-se, já que a pauta está agendada, que o Supremo restrinja o foro privilegiado para deputados (que só teriam o benefício para casos que ocorrerem durante o mandato, e relacionados à atividade parlamentar). O placar se inicia com 8×0 pela restrição ao benefício – ou seja, a medida tem votos mais do que suficientes para ser aprovada. Por que, então, só se supõe que a decisão será tomada? Porque basta um dos três que ainda não votaram pedir vistas do processo para que tudo seja paralisado. E pedido de vista, na prática, não tem prazo: o processo é devolvido quando o ministro que o requereu resolva, por sua vontade, devolvê-lo. A proposta que espere.

Os americanos, além da silly season, deram o nome de Silly Symphonies a 75 desenhos animados produzidos por Walt Disney de 1929 a 1939, em que a ação seguia o ritmo de belas músicas, muito bem executadas. Foram obras-primas com nome de tolices. Nossas tolices fazem jus ao nome.

A voz divina

Diziam os gregos que os deuses, quando queriam destruir uma pessoa, atendiam seus desejos. Temer quis muito ser presidente, e foi atendido. É presidente, mas os únicos ministros que pode nomear são aqueles de sempre, Eliseu Padilha, Moreira Franco, sua eterna turma; até Renan e Eunício andam flertando com Lula – que, mesmo ainda preso, rende mais que Temer, mesmo que ainda solto.

E, mesmo nomeando os ministros que o Congresso exige, não consegue nem votar as medidas essenciais para que a economia funcione. Resultado: a inflação cai, os juros básicos caem, os juros que os bancos cobram continuam altíssimos e o desemprego sobe.

Alô, mamãe

A proposta do deputado petista Vicente Cândido já tem tempo de casa, mas andava meio esquecida. Agora o PT propôs retomá-la, proibindo a transmissão pela TV das sessões do Supremo. Na opinião deste colunista, é uma boa medida: contribuiria para tirar o estímulo de oradores que, para dizer que acompanham o voto do relator, falam durante cinco ou seis horas. O ideal seria que alguns julgamentos fossem transmitidos mais tarde, em outro dia, com os trechos principais dos votos. Se o clássico discurso em que Churchill prometeu sangue, suor e lágrimas durou algo como cinco minutos, como se explica que um voto precise de dez horas para ser lido?

O progresso da Lava Jato

A Procuradoria Geral da República denunciou na segunda-feira ao STF o ex-presidente Lula, os ex-ministros Palocci e Paulo Bernardo, e a esposa de Bernardo, senadora Gleisi Hoffmann (PT-Paraná), por lavagem de dinheiro e corrupção. Diz a denúncia que a Odebrecht prometeu a Lula uma doação de US$ 40 milhões em troca de benefícios. Contra os denunciados há delações premiadas, planilhas e mensagens obtidas pela quebra do sigilo telefônico da empresa. A Odebrecht, diz a Procuradoria, teve o aumento da linha de crédito do BNDES para atuar em Angola. A defesa de Lula diz que as acusações não têm base e seguem a linha da perseguição política.

Excelente notícia

Uma nova empresa israelense de tecnologia, a A1C Foods, é a esperança de boa parte da população: com base num produto que desenvolveu e do qual tirou patente, acena com chocolates, sorvetes, pães e pizzas com baixo teor de carboidratos e açúcares. Esses alimentos, diz a empresa, poderão ser consumidos por diabéticos. Ainda falta um longo caminho – por exemplo, os testes da FDA, a agência americana que aprova ou não alimentos e remédios. Mas é uma esperança: a A1C usa açúcar em suas fórmulas, não adoçantes; e farinha normal – mais o produto que desenvolveu. A empresa foi criada em 2016 por Ran Hirsch, cuja filha tem diabetes.

Dia de balanço

Todas as centrais sindicais anti-Temer – as maiores – convocaram uma manifestação conjunta para a tarde de ontem, em Curitiba, juntando o Dia do Trabalho e o protesto contra a condenação de Lula. Até a central que sempre se opôs a Lula, a Força Sindical, aderiu – claro, o Governo Temer extinguiu o Imposto Sindical, que garantia às centrais um belo e garantido aporte de recursos, mesmo que os assalariados não quisessem contribuir. Jogaram tudo para reunir o máximo possível de gente. E fracassaram: havia um punhado de gente, talvez duas mil pessoas (ou, fazendo um esforço, talvez cinco mil). É mesmo difícil sustentar que um político preso é um preso político, e que sua prisão é ilegal, depois que foi condenado pelo juiz singular, depois que o tribunal de segunda instância confirmou a condenação e ampliou a pena.

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.

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