Prefeitura de SP tornou-se ninho de escândalos e Bruno Covas deve explicações aos paulistanos

“À mulher de César não basta ser honesta, deve parecer honesta.” Eis o provérbio romano que discorre sobre a honestidade da bela e jovem Pompéia Sula, segunda esposa do imperador Júlio César.

O provérbio atravessou séculos e singrou mares, mas ao que parece não surtiu efeito na política brasileira, onde ser honesto e parecer com tal é coisa rara. Esse preâmbulo serve para discorrer sobre a Prefeitura de são Paulo, onde estranhezas ganham espaço sem que o alcaide Bruno Covas se preocupe com o assunto.

A Justiça determinou à Prefeitura paulistana a realização de uma “seleção pública e isonômica” para escolher as empresas que farão os serviços emergenciais da varrição na capital. A decisão judicial veio após veto à renovação do contrato emergencial sem a concorrência de empresas interessadas em realizar o serviço de limpeza urbana.

O contrato emergencial vence na próxima quarta-feira (13) e até lá a Prefeitura precisa resolver o imbróglio, caso contrário a maior cidade brasileira corre o sério risco de ficar com as ruas sujas.

Em um país movido por escândalos de corrupção quase diários, a contratação emergencial, que dispensa licitação, naturalmente ingressa na vala da suspeição. No caso específico, a suspeita é mais do que justificável, pois o serviço de limpeza urbana da capital dos paulistas é uma das maiores contratações da Prefeitura, com custo anual de R$ 1,2 bilhão.

Em dezembro de 2017, o então secretário de Prefeituras Regionais, Cláudio Carvalho, disse que a Prefeitura precisava fazer um contrato emergencial. “Nós não podemos parar 12 mil pessoas e nem o serviço de varrição nessa época de chuvas”, disse Carvalho. Seis meses depois, sem ao menos se movimentar para a realização de um processo licitatório, a Prefeitura quer fazer outro contrato emergencial.

Quem conhece os meandros da administração paulistana ao longo de décadas sabe que a varrição de ruas é um dos principais ralos do dinheiro público, tendo enchido os bolsos de muitos criminosos. Não se trata de responsabilizar por antecipação os responsáveis pelo assunto na atual gestão.

PPP da Iluminação Pública

Mas não é apenas essa estranheza que marca a administração do PSDB na cidade de São Paulo. Semanas antes de deixar o cargo, o então prefeito João Agripino da Costa Doria Junior, um gazeteiro conhecido que descumpriu a promessa de ir até o fim do mandato, deparou-se com grave denúncia de corrupção envolvendo o processo da Parceria Público-Privada da Iluminação Pública. O que não significa que desconhecesse a tramoia.

Demissões e exonerações não faltaram, mas o assunto, sob investigação do Ministério Público, parece não ter servido de lição para a cúpula da Prefeitura. A epopeia da varrição pública, que foi adiante por interferência da Justiça, está sob a responsabilidade da Secretaria das Prefeituras Regionais, comandada por Marcos Penido, que na época de Doria estava à frente Secretaria de Serviços e Obras (SSO).


Coincidência ou não, Penido tinha sob a sua batuta, na SSO, o processo licitatório da PPP da Iluminação, tendo assistido a todos os desmandos embalado por um estranho e obsequioso silêncio.

Alguém há de dizer que trata-se de teimosia do UCHO.INFO insistir no tema, mas reza a sabedoria popular que não há fumaça sem que em algum momento anterior não tivesse fogo. Prova disso é que Marcos Penido trocou a Secretaria de Serviços e Obras pela igualmente poderosa Secretaria de Prefeituras Regionais, tendo levado para a nova pasta a PPP da Iluminação. Em outras palavras, a PPP da Iluminação tornou-se uma ação entre amigos, turbinada pela corrupção.

Propina da Eletropaulo e escândalo do Metrô

Por ocasião do escândalo da PPP da Iluminação, veio à tona uma gravação com gravíssima acusação contra Marcos Penido e Júlio Semeghini (Secretário de Governo). A então diretora do Ilume, sem qualquer constrangimento, afirma na gravação que Penido e Semeghini recebiam propina da Eletropaulo, empresa de distribuição de energia elétrica cujo controle acionário passou para as mãos de italiana Enel. E mais: disse que “todo mundo sabe” do esquema.

Em qualquer país minimamente sério, com autoridades e governantes responsáveis, Penido e Semeghini já estariam afastados. Ao contrário, continuam em postos-chave da Prefeitura de São Paulo, o que configura uma monumental afronta ao munícipe e ao suado dinheiro do contribuinte.

Não obstante, o prefeito Bruno Covas nomeou para a chefia do seu gabinete o ex-secretário municipal de Mobilidade e Transportes, Sérgio Avelleda, condenado pela Justiça à perda de função pública e suspensão de direitos políticos pelo prazo de cinco anos por improbidade administrativa e ao pagamento de R$ 326,9 milhões de ressarcimento do suposto prejuízo aos cofres públicos.

Avelleda e mais doze empresas (OAS, Galvão Engenharia, Serveng, Andrade Gutierrez, Mendes Júnior, Heleno, Carioca, Cetenco, Queiroz Galvão, Triunfo, CR Almeida e Consbem) são acusados de fraudar licitação, em 2010, para a construção da Linha 5-Lilás do Metrô (Largo 13 à Chácara Klabin), em São Paulo.

À época, o atual chefe de gabinete de Bruno Covas presidia o Metrô e a Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) – leia-se gestões José Serra e Geraldo Alckmin.

Apesar do enredo bandoleiro acima, o PSDB não consegue entender a razão de os candidatos do partido terem caído em desgraça junto ao eleitorado. Mesmo tarde, Bruno Covas deveria analisar melhor o significado do provérbio romano sobre a honestidade de Pompéia Sula e dar uma explicação minimamente razoável à população da quarta maior cidade do planeta.

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