(*) Rizzatto Nunes
Não falarei de consumo (a não ser que se considerem esses fatos algo reproduzido e consumido como informação, o que também é o caso; e/ou, também, se considerem a estupidez como produto de consumo).
Albert Einstein, com a propriedade de sempre, disse: “Duas coisas são infinitas: o universo e a estupidez humana. Mas, em relação ao universo, ainda não tenho certeza absoluta.
Para garantir que o genial pensador tem razão não precisamos ir muito longe. Basta ficarmos com os últimos dias. Nos Estados Unidos da América do Norte, crianças são enjauladas e separadas de pais e mães que pretendem ingressar no território norte americano e lá permanecer (algumas dessas pessoas entram escondidas e outras pedem asilo). Isso é já terrível; as declarações das autoridades americanas não ajudam em nada.
E basta assistir aos vídeos sexistas, machistas e incrivelmente ridículos produzidos por torcedores brasileiros na Rússia, para ver como Einstein tem razão. O que preocupa nesse infinito de idiotice é observar que, no caso do vídeo, são homens jovens. Não se trata da minha geração (acima dos 60 anos), que se pressupõe ser uma geração machista. Não! São homens que deviam estar sintonizados com o direito da modernidade É de assustar. Pelo que se vê, o infinito vai para todos os lados.
E quando estava escrevendo este artigo, vejo que o Ministro brasileiro do Turismo Vinicius Lummertz, quis minimizar a repercussão. Disse ele que acredita que os brasileiros andam intolerantes com as falhas humanas e afirmou ainda que o caso não foi tão grave, já que “não morreu ninguém” (i). Esse tipo de atitude, ainda mais vindo de uma autoridade, só piora o quadro.
Como disse meu amigo Outrem Ego: “Uma saída, no caso brasileiro, seria criar o tipo penal da ‘idiotice’. Punir-se-ia quem é abertamente estúpido, isto é, quem é, gosta de ser e ainda por cima adora mostrar pra todo mundo. Cestas básicas e trabalhos comunitários seriam boas penas alternativas para eles. E, talvez, aula de civilidade. E bota hora-aula nisso!”
Mas a pergunta que fica, em pleno decorrer do Século XXI, é: afinal, de quem é a culpa? Seria de algum espírito maléfico? Ou, como Einstein diz, não há saída? Quem criou uma humanidade assim tão infinitamente limitada? Será culpa de Deus ou do demônio? Penso que de nenhum dos dois, mas assim mesmo conto essa história na sequência para terminar:
O burro está solto
Um burro estava amarrado a uma árvore
O demônio veio e o soltou.
O burro entrou na horta dos camponeses vizinhos e começou a comer tudo.
A mulher do dono da horta, quando viu aquilo, pegou o rifle e matou o burro.
O dono do burro viu o burro morto, ficou enraivecido e também pegou seu rifle e atirou contra a mulher.
Ao voltar para casa, o camponês encontrou a mulher morta e matou o dono do burro.
Os filhos do dono do burro, ao ver o pai morto, queimaram a fazenda do camponês.
O camponês, em represália, os matou.
Daí, um anjo vendo tudo aquilo, foi ao demônio e disse: “Viu o que você fez?”
Mas, o demônio respondeu: “Eu não fiz nada. Só soltei o burro”
(i) https://esporte.uol.com.br/futebol/copa-do-mundo/2018/noticias/2018/06/26/ministro-do-turismo-minimiza-assedio-de-brasileiros-nao-morreu-ninguem.htm
(*) Luiz Antônio Rizzatto Nunes é professor de Direito, Mestre e Doutor em Filosofia do Direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP); Livre-Docente em Direito do Consumidor pela PUC-SP e Desembargador aposentado do Tribunal de Justiça de São Paulo.