Com Trump menos descontrolado, reunião da OTAN escapa do fiasco da cúpula do G7

O clima em Bruxelas pode não ter sido necessariamente cordial, com Donald Trump disparando mais uma vez acusações contra os aliados europeus, mas os países-membros da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) conseguiram na quarta-feira (11) ao menos assinar uma declaração conjunta, o que evitou uma repetição do fracasso da última reunião do G7.

Horas antes do início do encontro, já em Bruxelas, Trump chegou a chamar seus aliados de delinquentes por não darem mais dinheiro à Aliança Atlântica, não perdendo a oportunidade de dizer que a Alemanha é refém da Rússia na questão energética. Na verdade, o tresloucado presidente dos EUA desconhece o fato de que boa parte da Europa depende do gás russo. E isso não é uma questão de opção estratégica, mas de necessidade real.

A cúpula em Bruxelas, que vai até esta quinta-feira (12), acontece debaixo de crescentes atritos entre Estados Unidos e Europa, em âmbitos como o comércio, acordo nuclear iraniano e mudança climática, após as medidas unilaterais adotadas por Washington, e de tensão pela pressão que Trump impõe a seus aliados europeus para que gastem mais com defesa.

“Nós deveríamos estar nos protegendo contra a Rússia, e a Alemanha vai e paga bilhões e bilhões de dólares por ano à Rússia”, disse Trump antes da cúpula, sobre o apoio alemão a um novo gasoduto de 11 bilhões de dólares no Mar Báltico.

“Se você prestar atenção, a Alemanha é uma refém da Rússia. Eles se livraram de suas usinas de carvão, se livraram de seu programa nuclear, e estão recebendo boa parte do seu petróleo e gás da Rússia”, disse o presidente americano, como se fosse detentor da solução mágica para todos os problemas do planeta.

A chanceler alemã Angela Merkel não demorou a rebater de maneira elegante as palavras descabidas de Trump. Disse que, por ter crescido na Alemanha Oriental, sabe muito bem o que significa “uma nação refém”. E a Alemanha moderna, afirmou, definitivamente não é uma.

“Hoje estamos unidos na liberdade, como República Federal da Alemanha”, afirmou Merkel. “E por isso podemos dizer que fazemos política independente e tomamos decisões de forma independente.” Se a troca de acusações continuou, o “sucesso” agora em Bruxelas significou apenas a ausência de desastres diplomáticos como o ocorrido com o G7, no começo de junho, quando Trump se recusou a assinar o comunicado final, chamou o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, de “desonesto”, e foi flagrado encarando através da mesa uma chefe de governo alemã igualmente austera, em foto que se espalhou pela internet.

“Nós tivemos discussões, desentendimentos, mas, o mais importante, tomamos decisões que vão impulsionar essa aliança para frente e nos tornar mais fortes”, afirmou o secretário-geral da OTAN, Jens Stoltenberg, após a primeira sessão da cúpula.


Gastos com defesa

Na declaração conjunta, os países-membros da OTAN se comprometeram, entre outros pontos, a aumentar as contribuições financeiras, uma das exigências de Trump. “Comprometemo-nos a melhorar o equilíbrio na divisão de custos e responsabilidades na aliança”, diz o texto.

A questão dos gastos com defesa, porém, continua como ponto de atrito entre EUA e seus aliados. Na reunião, Trump pressionou os europeus a elevarem seus gastos para 4% do PIB nacional, o dobro do que os países prometeram atingir até 2024, de 2%. Segundo fontes da Casa Branca, não foi um pedido formal, mas um apelo feito pelo presidente americano aos parceiros.

“O presidente Trump quer ver nossos aliados compartilharem mais o fardo e, no mínimo, cumprirem com suas obrigações já estabelecidas”, afirmou a porta-voz da Casa Branca, Sarah Sanders, após a reunião a portas fechadas entre os líderes da OTAN.

Em coletiva de imprensa, Stoltenberg afirmou: “Acho que deveríamos primeiro chegar aos 2%, focar nisso agora. O bom é que já estamos chegando lá”. Segundo ele, após o fim da Guerra Fria, os países foram reduzindo seus gastos com defesa à medida que as tensões se aliviavam – agora, é necessário aumentá-los, já que as tensões voltaram a crescer, defendeu.

Os gastos dos Estados Unidos com defesa foram de 3,6% do PIB nacional em 2017. A Alemanha, por outro lado, gastou apenas 1,24% e, para 2024, promete não mais que 1,5% – mas considera que assim já está se aproximando do objetivo de 2% acordado pelos aliados.

De acordo com a OTAN, apenas oito países devem cumprir a meta dos 2% neste ano: além dos Estados Unidos, Grécia, Reino Unido, Polônia, Romênia, Lituânia, Letônia e Estônia.

Na declaração, além de reiterar o acordo sobre a porcentagem com os gastos com defesa, os países também se comprometeram a “apresentar planos nacionais credíveis sobre sua implementação, incluindo diretrizes de gastos para 2024, as capacidades planejadas e as contribuições”. (Com agências internacionais)