Se “política é como nuvem”, Alckmin deveria desconfiar do apoio do polêmico e bisonho “Centrão”

Ex-governador de Minas Gerais, o saudoso José de Magalhães Pinto (1909 – 1996) disse certa feita: “Política é como nuvem. Você olha e ela está de um jeito. Você olha de novo e ela já mudou”. Resumindo, na política nada é certo, até mesmo quando certo está.

Há dias, o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) anunciou e comemorou o apoio do chamado “Centrão” à sua candidatura ao Palácio do Planalto, mas não ocasião o UCHO.INFO afirmou, sem deixar de reconhecer a habilidade política do tucano nos bastidores, que era cedo para comemorações. E ainda é, mesmo faltando algumas horas para o apoio ser confirmado oficialmente.

Quando o “Centrão” decidiu embarcar na candidatura de Alckmin, o “dono” do PR, Valdemar Costa Neto tomou a dianteira e exigiu o direito de indicar o candidato a vice. O nome apresentado naquele momento foi o do empresário Josué Gomes da Silva, dono da Coteminas e filho de José Alencar Gomes da Silva, vice de Lula nos dois governos do petista.

Josué e Alckmin conversaram duas vezes na última segunda-feira (23), mas o que estava certo acabou esfarelando. Josué rejeitou o convite, não sem antes agradecer, alegando que não agregaria votos à candidatura do tucano. Desculpa elegante para quem deseja “sair à francesa”.

Costa Neto, que não quer assumir o ônus do fracasso, partiu para cima de Josué, que prometeu rever sua decisão e dar nova resposta até amanhã, quinta-feira (26). Enquanto isso, ligeiro que é, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força, comandante em chefe do Solidariedade, não perdeu tempo e colocou sobre a mesa o nome de Aldo Rebelo, comunista histórico e com bom trânsito entre os militares das três Armas, além de contar com o apoio do Democratas, ACM Neto, prefeito de Salvador.


Alguém há de perguntar o motivo de ACM Neto apoiar a indicação de Rebelo como candidato a vice na chapa de Alckmin, mas na política inexistem coincidências. Atual presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia é filiado ao Democratas e buscará a reeleição. Além disso, por ter gostado do poder, tentará mais um mandato como presidente da Câmara. E para tal precisa contar com os votos dos partidos de esquerda, onde Aldo Rebelo circula com desenvoltura de sobra.

Contudo, chama a atenção um ponto silencioso do “Centrão”. Até o momento, o PRB não se manifestou nessa anunciada aliança com Geraldo Alckmin, o que causa estranheza. Pode ser um estilo discreto de fazer política, mas pode ser também um momento de conspiração.

Vamos aos fatos… Há dias, em estabanada mensagem enviada pelo WhatsApp a um grupo de emedebistas, o ministro Carlos Marun (Secretaria de Governo) chamou Ciro Gomes de “débil mental” e afirmou que o Palácio do Planalto entrou em cena para inviabilizar o acordo entre o “Centrão” e o pedetista.

Pois bem, se essa investida prejudicou Ciro e acabou beneficiando Alckmin, há algo fora do prumo no enredo palaciano. Ex-ministro da Fazenda e candidato do MDB à Presidência da República, Henrique Meirelles é um bom nome para comandar o futuro do País, mas continua empacado nas pesquisas.

Para sair do atoleiro, Meirelles sonha com o apoio do PRB. Ora, o PRB integra o “Centrão”, que fechou acordo com Geraldo Alckmin. Ou Meirelles está confundindo sonho com pesadelo, ou Alckmin não sabe a diferença entre aliança e traição.

No universo da sabedoria popular, esse conturbado cenário eleitoral seria facilmente traduzido pelo dito “farinha pouca, meu pirão primeiro”. Porém, tudo indica que há caroços em demasia no angu.