Acordo entre PT e PSB impõe sinuca eleitoral a Ciro Gomes, mas não salva “companheiros” de derrocada

A necessidade de sobrevivência levou o PT a manobrar de forma intensa nos últimos dias para conseguir isolar eleitoralmente Ciro Gomes, candidato do PDT à Presidência da República. Ciro, que vinha oscilando entre os elogios e os ataques a lula e ao PT, apostava em uma possível aliança com o PSB, que decidiu manter neutralidade na corrida presidencial.

Essa decisão do PSB dá ao petista Fernando Pimentel fôlego extra para tentar novo mandato como governo de Minas Gerais, onde as pesquisas mostram o tucano Antonio Anastasia na liderança. Para tal, o PSB rifou a candidatura de Márcio Lacerda, ex-prefeito de Belo Horizonte, que está disposto a desafiar o partido e manter o projeto de concorrer ao governo estadual.

Por outro lado, o PT compensou o afago do PSB com a retirada da candidatura de Marília Arraes, que até quarta-feira (1) era postulante ao governo pernambucano. Com isso. O atual governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), fica mais à vontade para tentar a reeleição, mas carregará sob seu guarda-chuva eleitoral o senador petista Humberto Costa, que busca novo mandato.


O que se depreende desse enxadrismo esquerdista é que o PT começa a enxergar a realidade como de fato é. Lula está inelegível e tem pouca chance de reconquistar a liberdade, mesmo que provisória, antes das eleições, o que ajudaria a legenda a cabalar votos Brasil afora. O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu votar o pedido de liberdade do ex-presidente antes do prazo final para o registro das candidaturas, ou seja, no máximo até a próxima quinta-feira, 9 de agosto.

Esse cenário empurra o partido para colocar em marcha o chamado “plano B”, mesmo que alguns “companheiros” ainda insistam na candidatura de Lula. Com Jaques Wagner e Fernando Haddad negando que concorrerão ao Palácio do Planalto, o PT precisa decidir se terá candidatura própria ou aceita aliar-se a algum candidato de esquerda ocupando a vaga de vice.

Uma candidatura própria à Presidência ajudaria o PT a eleger uma bancada de deputados federais mais elástica, o que tem reflexo no fundo partidário. No contraponto, uma candidatura a vice tira o PT do protagonismo da esquerda, algo que não passa pelo pensamento de Lula, mesmo que atrás das grades. Apesar da soberba reinante nas hostes petistas, o partido corre o sério risco de enfrentar no processo de encolhimento nas eleições de outubro.

Por enquanto, a esquerda caminha dividida, com alguns dos seus atores apostando na possibilidade de renovação, o que não existiu no acordo entre PT e PSB. Esse tabuleiro eleitoral, como posto até então, impôs a Ciro Gomes uma sinuca eleitoral, mas ao mesmo prejudica a direita e auxilia a centro-direita.