Ex-governador de São Paulo e candidato do PSDB à Presidência da República, Geraldo Alckmin não foge ao padrão dos políticos quando questionado sobre temas difíceis. Sabe escapar da pergunta com destreza, impondo à resposta um movimento típico de “frango de jacá” (assunto que só os caipiras conhecem).
Não se pode negar que comandar o mais importante e rico estado da federação é uma considerável experiencia em termos de gestão pública, mas isso não confere a Alckmin o direito de abusar do bom-mocismo quando o é a política nacional, cada vez mais desacreditada.
Na noite de quinta-feira (2), no programa Central das Eleições da GloboNews, Geraldo Alckmin disse que o apoio do “Centrão” não se deu para aumentar o tempo de televisão de sua candidatura, mas porque os partidos que integram a aliança acreditaram no seu projeto político. O candidato tucano pode alegar o que quiser, só não tem o direito de enganar o eleitor.
Qualquer neófito em política sabe que, mesmo com o avanço da internet e das redes sociais e dos aplicativos de mensagens, no Brasil as eleições ainda dependem de tempo de televisão e de rádio. E Alckmin certamente aceitou o ônus do “Centrão” por conta do bônus. E muitos candidatos fariam o mesmo, apesar de alguns estarem a dizer que não.
Foto com Aécio
Ao entrevistar um político, o papel do jornalista não é dar espaço para que entrevistado escape dos questionamentos, pelo contrário, mas é preciso doses de coerência ao fazer perguntas – antes de qualquer cobrança pontual, isso falto no Roda Viva com Bolsonaro (foram apenas quatro ou cinco perguntas coerentes).
Na sabatina da GloboNews, após ser lembrado de que Aécio Neves (PSDB-MG) foi flagrado em gravação telefônica acertando propina com o empresário Joesley Batista e que sugeriu matar seu primo caso revelasse o recebimento do dinheiro, Alckmin foi perguntado se durante a campanha se deixaria fotografar ao lado do senador mineiro. Deveria ter respondido que não, mas fugiu da resposta.
No momento em que o País espera ouvir dos candidatos propostas para mudar a dura realidade do cotidiano, mesmo que isso demore algum tempo, preocupar-se com uma fotografia é impor à sabatina uma pequenez jornalística desnecessária.
Apenas para lembrar, desde já desmontando o falso moralismo da Vênus Platinada, a emissora carioca nasceu e cresceu à sombra da ditadura militar, mantendo em sua diretoria, durante os anos de chumbo, pessoas ligadas aos militares, mas não se avexou no momento de defender a redemocratização, as Diretas Já e outros movimentos. Ou seja, a TV por assinatura da família Marinho quis dar uma lição de coerência, sem ter estofo para tanto.