Depois de muita discussão e quedas de braço para todos os lados, o PT finalmente registrou no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), nesta quarta-feira (15), a impossível candidatura de Lula, que está inelegível por conta de sentença condenatória de segundo grau.
Cumprindo pena de prisão (12 anos e 1 mês) na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, Lula sabe que não será candidato, mas enquanto a Corte eleitoral não decide sobre o assunto caberá ao “companheiro” Fernando Haddad, ex-prefeito de São Paulo e candidato a vice-presidente pelo PT, rodar o Brasil levando o programa de governo do partido.
Antes do registro da candidatura de Lula, a cúpula petista reuniu-se em Brasília para uma decisão final sobre os próximos passos após o ato no TSE. Vencidas as discordâncias, ficou decidido que Haddad assumirá a campanha enquanto o ex-metalúrgico estiver preso. Ou seja, o PT encontrou uma forma transversa de anunciar que Fernando Haddad, que consta oficialmente como vice, é o candidato do partido ao Palácio do Planalto.
Além disso, segundo alguns petistas que participaram do encontro na capital federal, Haddad será a voz de Lula nos eventos da campanha. Se para os que nutrem repulsa ao PT isso nada representa, para quem acompanha a política nacional há detalhes interessantes que brotam dessa decisão.
A primeira delas é que a senadora paranaense Gleisi Helena Hoffmann, presidente nacional da legenda, perde força entre os “companheiros”, que há muito a tratavam com certo distanciamento por conta do temperamento intempestivo e da postura autoritária dentro do partido.
Arrogante, Gleisi tornou-se ainda mais pretensiosa quando foi ungida por Lula ao comando do PT. Naquele momento, a senadora foi escolhida para ser uma espécie de murro de arrimo para os problemas e escândalos do padrinho político, mas acreditou que o novo status lhe proporcionara um upgrade político repentino. Como se a fétida lama em que chafurda o PT permitisse esse tipo de arroubo.
No momento em que foi oficializada como presidente do PT e passou a dialogar e interagir diuturnamente com Lula, a senadora paranaense resgatou um sonho não tão longevo. Nos meses em que esteve à frente da Casa Civil da Presidência da República, Gleisi acreditou que era a pessoa certa para substituir Dilma Rousseff no cargo. Porém, o sonho de Gleisi Helena, que seria um enorme pesadelo para o Brasil durou pouco.
Nas últimas semanas, Gleisi trabalhou incansavelmente contra Fernando Haddad, pois seu desejo – talvez obsessão – era ser candidata a vice na chapa do inelegível Lula. Como o condenado ex-metalúrgico só confia na senadora como “garota de recados”, a saída foi recorrer a Haddad, que tem um discurso mais ameno e objetivo quando o assunto é campanha eleitoral, principalmente se considerado o calvário petista.
Com a confirmação de Fernando Haddad como candidato a vice na chapa de Lula – na verdade é o cabeça de chapa –, o poder de Gleisi Hoffmann foi reduzido a quase nada. E não causará surpresa se a senadora for apeada do posto caso tropece nas urnas de outubro próximo, quando tentará uma vaga na Câmara dos Deputados. Gleisi, quem diria, acabou no Irajá.