O general da reserva Antônio Hamilton Mourão, candidato a vice na chapa do presidenciável Jair Bolsonaro (PSL), parece não precisar de muito esforço para confirmar a tese do também candidato Ciro Gomes (PDT), que em recente entrevista chamou o militar de “jumento de carga”. O presidenciável pedetista repetiu essa afirmação ao ser entrevistado no Jornal da Globo, na madrugada desta terça-feira (18).
O UCHO.INFO entende que esse linguajar não coaduna com um postulante à Presidência da República, mas Hamilton Mourão não fica longe quando afirma que famílias pobres “sem pai e avô, mas com mãe e avó” são “fábricas de desajustados” que fornecem mão de obra ao narcotráfico. Tal declaração foi dada em palestra a empresários da construção civil, em São Paulo, na segunda-feira (17).
Mourão não precisa muito tempo para mostrar seu lado preconceituoso, algo que já ficou patente em outras ocasiões, mas diante de empresários, na capital paulista, o general reformado tentou explicar o pensamento obtuso, mas, como disse o poeta português Bocage, a “emenda ficou pior do que o soneto”.
“A partir do momento em que a família é dissociada, surgem os problemas sociais. Atacam eminentemente nas áreas carentes, onde não há pai e avô, mas sim mãe e avó. Por isso, é uma fábrica de elementos desajustados que tendem a ingressar nessas narco-quadrilhas”.
Movido pela delinquência intelectual, o vice na chapa de Bolsonaro ignorou milhões de mulheres brasileiras que comandam sozinhas suas famílias e, em ato de coragem extrema, tentam dar um futuro digno aos filhos, mesmo em um país repleto de problemas e disparidades sociais.
Alguém que pretende a ocupar o segundo mais importante cargo do País não pode sair País afora falando em “fábrica de desajustados”, pois há nesse destampatório “militaresco” algo que a Psicologia talvez consiga explicar. A projeção, via de regra, é tratada pelos psicólogos como um mecanismo de defesa no qual os atributos indesejados de determinada pessoa são transferidos a terceiros. E o general deveria pensar nisso, pois sua insistência em desqualificar o próximo chega a ser preocupante.
Para manter o estilo “bate e arrebenta” e não deixar cair o discurso de Bolsonaro de que a esquerda precisa ser fuzilada, Mourão aproveitou o fato de estar diante de uma plateia conservadora e atacou a política externa do governo do então presidente Lula, que sempre recebeu críticas deste portal.
“Nós nos ligamos com toda a mulambada, me perdoem o termo, do lado de lá e de cá do oceano na diplomacia Sul-Sul”, disse Hamilton Mourão, que ajudaria o seu cabeça de chapa se ficasse calado a maior parte do tempo.
Uma coisa é condenar a decisão do governo Lula de balizar a diplomacia brasileira pelo viés ideológico, outra é ignorar o fato de que a África é a única porção do planeta não desenvolvida. Não por acaso, a China está avançando sem piedade sobre o continente africano em busca de investimentos e negócios.