Enquanto o pai adoça o discurso, Eduardo Bolsonaro assume o papel de porta-voz do retrocesso

Que nenhum brasileiro pense que os próximos quatro anos serão fáceis em termos políticos, pois a radicalização que marcou a corrida presidencial norteará as atividades no Congresso Nacional, onde a queda de braço entre direita e esquerda será ainda mais acirrada.

O presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) tem procurado amainar suas declarações em relação à esquerda, em especial quando no tocante aos petistas, mas seus discursos no estilo “paz e amor” não apenas são pouco convincentes, mas têm curto prazo de duração. Isso porque seus filhos, tidos como principais interlocutores, não deixam dúvidas a respeito de como será o ritmo da convivência entre as duas correntes ideológicas no Parlamento.

No domingo anterior ao segundo turno, Bolsonaro, em vídeo transmitido aos seguidores que realizavam ato na Avenida Paulista, na cidade de São Paulo, disparou frases contra os integrantes da esquerda, como se a Constituição não garantisse ao cidadão liberdade política e ideológica.

“Essa turma, se quiser que ficar aqui, vai ter que se colocar sob a lei de todos nós. Ou vão pra fora ou vão pra cadeia. Esses marginais vermelhos serão banidos de nossa pátria”, esbravejou Bolsonaro.

Em seguida, o então presidenciável emendou: “Petralhada, vai tudo vocês pra ponta da praia. Vocês não terão mais vez em nossa pátria porque eu vou cortar todas as mordomias de vocês. Vocês não terão mais ONGs para saciar a fome de mortadela de vocês.”

Dando sequência ao seu discurso provocador, Jair Bolsonaro foi além e disparou: “Vocês, petralhada, verão uma polícia civil e militar, com retaguarda jurídica pra fazer valer a lei no lombo de vocês.”

Dias depois, Bolsonaro recuou e disse naquele momento fez referência aos integrantes da cúpula do PT, não aos integrantes da esquerda. Ou seja, o agora presidente eleito tentou emendar o soneto, mas não conseguiu.


A legislação brasileira, como já mencionado pelo UCHO.INFO, não só garante liberdade de expressão e de pensamento, como impede a extradição dos cidadãos por questões ideológicas. Em outras palavras, o que Bolsonaro propõe é criar no Brasil um regime de exceção, que certamente será combatido pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Com o intuito de colocar combustível na já ardente fogueira, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) defendeu que o futuro presidente da Câmara “tratore” os partidos de esquerda. De acordo com o parlamentar, a oposição já demonstrou intenção de obstruir o governo de seu pai, Jair Bolsonaro, talvez até de derrubá-lo.

“Acho que no dia 1º de janeiro, se der bobeira, já tem pedido de impeachment para ser impetrado. Então, com esse tipo de oposição, que não está a fim de dialogar ou de criticar e apontar os defeitos do governo, mas está se preocupando em derrubar um governo que sequer tomou posse, acho que não tem como dar ouvidos. É tratorar”, afirmou em entrevista ao SBT no domingo (4).

Questionado sobre o significado de “tratorar”, o deputado disse que o presidente da Câmara precisa evitar que deputados de esquerda obstruam a votação das pautas na Casa, colocando questões de ordem e apresentando recursos.

“Temos que ter um presidente que acelere a sessão que não deixe cair nessa ladainha da esquerda de toda hora colocar questão de ordem, [criar] confusão no meio da sessão para ela cair ou não se votar nada”, disse.

Eduardo Bolsonaro tem o direito à livre manifestação do pensamento, mesmo que esdrúxulo seja, portanto pode dizer o que quiser, mas querer atropelar o Regimento Interno da Câmara apenas para satisfazer as vontades do pai é flertar com o totalitarismo.

A apresentação de recursos e questões de ordem durante votações no Congresso faz parte do jogo democrático. Sendo assim, qualquer medida para impedir tais manifestações representaria uma tentativa de flertar com o totalitarismo. Ou a oposição, não importa se de esquerda ou de direita, cumpre o seu papel, ou o Brasil que se prepare.