Após defender mais uma vez a Constituição, Bolsonaro se irrita com jornalistas e abandona entrevista

Nesta terça-feira (6), em clara demonstração que a tal bolsa de colostomia não lhe causa os incômodos alegadas sugeridos para escapar dos debates da corrida presidencial, Jair Bolsonaro participou no Congresso Nacional, em Brasília, de sessão solene em comemoração aos 30 anos da Constituição Federal.

Mais uma vez, o presidente eleito falou em respeito à Constituição, a exemplo do que vem fazendo desde que foi eleito, depois de algumas sinalizações que deixaram dúvidas e cessaram na esteira de possíveis e nada simpáticos recebidos nos bastidores. Bolsonaro teria sido aconselhado a moderar o discurso, visto por muitos integrantes dos Poderes constituídos como clara ameaça à democracia.

Ao tomar a palavra na solenidade no Congresso, o eleito disparou: “Na topografia, existem três nortes, o da quadrícula, o verdadeiro e o magnético. Na democracia só um norte, é o da nossa Constituição”.

Entre a retórica e a prática há uma diferença considerável, o que faz dos discursos de Jair Bolsonaro uma usina de desconfianças. Isso porque o capitão reformado tem dificuldades para transformar as próprias palavras em atitude. Ou seja, enfrenta problemas para na prática agir como um defensor da Constituição.


Logo após o evento no Congresso, Bolsonaro concedeu entrevista no momento em que deixava o Ministério da Defesa. Questionado pelos jornalistas sobre a decisão do governo do Egito de cancelar uma visita do chanceler brasileiro Aloysio Nunes, o presidente eleito fugiu da resposta. “Não, outro assunto, outra pergunta aí”, disse Bolsonaro.

Diante da insistência de repórteres para que comentasse o tema, Bolsonaro repetiu o pedido para que fosse feita outra pergunta: “Outra pergunta, vamos embora”, disse, ao dar as costas e interromper a entrevista. Atitude típica de quem respeita a Constituição, a democracia e a liberdade de imprensa.

Respeitar a Constituição não é um gesto que se faz apenas para cumprir tabela, no melhor estilo politicamente correto. É preciso ter consciência de que tal gesto é uma manifestação inconteste de respeito à democracia.

Ao impor aos jornalistas as perguntas que quer responder e abandonar a entrevista no meio, Bolsonaro demonstra não estra preparado para viver sob o manto da democracia e muito menos para ser um governante que respeita as liberdades. Assumir esse compromisso por exigência legal, como forma de cumprir os requisitos da posse, não significará que Bolsonaro agirá ao longo do mandato como um democrata convicto e respeitado da Constituição. Em suma, teremos problemas de sobra pela frente.