A campanha eleitoral dava seus passos finais rumo ao primeiro turno, quando o então presidenciável Jair Bolsonaro disse, em tom de reprimenda, que o economista Paulo Guedes, batizado de “Posto Ipiranga”, era inexperiente em termos políticos.
A declaração surgiu no vácuo da proposta de Guedes para dar aos partidos na Câmara “superpoderes”, com o objetivo de aprovar projetos de interesse do governo, no melhor estilo “rolo compressor”, ignorando a opinião dos parlamentares e privilegiando a decisão das legendas. A proposta foi mal recebida no Congresso e obrigou Bolsonaro a uma manobra de última hora.
O tempo passou e, ao que parece, Paulo Guedes não aprendeu sobre política no período de mudez a que teve de se submeter após algumas declarações estapafúrdias e fora do tom. Nesta terça-feira (6), o economista, que já percebeu não ser dos mais amistosos o horizonte que lhe espera, fez um apelo a senadores e deputados em prol da aprovação da reforma da Previdência ainda em 2018.
Sem traquejo político, o que o torna um gorila em loja de cristais, Paulo Guedes disse que os parlamentares precisam de uma “prensa” para votar com celeridade o projeto de reforma da Previdência. Foi o bastante para deixar o Congresso em estado de alerta, contrariando as mais distintas correntes políticas e ideológicas do Parlamento federal, desde a esquerda até a direita, passando pelo centro e outras franjas.
Até mesmo os mais comedidos reagiram diante da escorregada de Paulo Guedes, que na condição de ministro de Estado precisará de treinamento especial para lidar com o Parlamento. Um dos que se manifestaram contra Guedes foi o senador Tasso Jereissati, do PSDB cearense.
“O Congresso é soberano, independente, e não tem prensa por aqui”, reagiu o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE). “A primeira coisa que o governo de Jair Bolsonaro vai precisar aprender é ter mais cuidado com as palavras”, disse o tucano.
Presidente do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE) evitou comentar a expressão “prensa” usada pelo futuro ministro da Economia em referência à pressão a ser exercida em breve pelo governo para garantir a aprovação da reforma. “O projeto de reforma da Previdência tem que ser encaminhado pelo presidente eleito, traduzindo o sentimento que vem das ruas”, disse o senador.
Se como economista Paulo Guedes é conhecido por ser um teórico por excelência que tem dificuldades para levar adiante suas ideias no campo da realidade, na seara política dará muito trabalho para o “bombeiro” do futuro governo, Onyx Lorenzoni, que está mais para Nero do que para apagador de incêndios.
Só mesmo um néscio em matéria política é capaz de acreditar que uma Proposta de Emenda Constitucional pode ser aprovada com a mesma facilidade e rapidez com que se prepara um pão com manteiga na chapa na padaria da esquina mais próxima. A aprovação de uma PEC exige quórum qualificado, ou seja, 308 votos na Câmara dos Deputados e 49 no Senado, em duas votações em ambas as Casas legislativas.
Que Paulo Guedes é despreparado em termos políticos todos sabem, mas o economista não se expressou de maneira inapropriada por convicção existencial, mas porque ao longo da campanha percebeu que assim pensa o presidente eleito, que continua acreditando ser possível fazer valer suas vontades como se o Brasil vivesse sob o totalitarismo.