Desde o momento em que o ex-presidente Lula foi arrastado para o olho do furacão em que se transformou a Operação Lava-Jato, o UCHO.INFO afirma que o episódio envolvendo o sítio Santa Bárbara, em Atibaia, no interior paulista, seria o maior dos problemas do petista no âmbito dos escândalos de corrupção sob a mira da Justiça.
Os advogados, por razões óbvias, negam ser o ex-metalúrgico o verdadeiro dono do imóvel, apesar do conjunto probatório mostrar o contrário, mas a questão maior não está na propriedade em si, mas na reforma realizada no tal sítio por duas das maiores empreiteiras do País, que como contrapartida foram beneficiadas em contratos da Petrobras.
Nesta segunda-feira (12), em depoimento à juíza Carolina Hardt, da 13ª Vara Federal de Curitiba, que substitui o juiz Sérgio Moro, o empresário Fernando Bittar declarou ser proprietário do sítio e que acreditava que as despesas referentes à reforma realizada no imóvel teriam sido pagas pelo ex-presidente da República.
Sobre a questão do pagamento da reforma, Fernando Bittar pode ter caído em contradição, pois o Ministério Público Federal afirma que notas fiscais referentes às obras foram emitidas em nome do empresário, sendo que os pagamentos ficaram a cargo das empreiteiras OAS e da Odebrecht, a exemplo do que ocorreu no caso do empreiteiro Carlos Prado.
Bittar foi questionado sobre nota fiscal de prestação de serviços e de um contrato emitidos pelo empreiteiro, ambos em seu nome, mas alegou desconhece os fatos. “Soube posteriormente através de mídia, imprensa. Eu não conheço essas pessoas”, afirmou Fernando Bittar. Ou seja, a situação de Lula piorou ainda mais, pois em discussão não está a propriedade do imóvel, mas as obras nele realizadas.
Também depôs o ex-assessor de Lula na Presidência, Rogério Pimentel, réu na ação por lavagem de dinheiro. Apontado por testemunhas como representante de Lula no sítio durante a reforma e acusado pelos procuradores de ter feito pagamentos em dinheiro vivo, repassado pela Odebrecht, Pimentel disse que a ex-primeira-dama pediu para que ele acompanhasse a obra.
“A gente como empregado, você pega uma conta e paga. Não tenho autonomia para perguntar da onde ele arrumou o dinheiro”, disse. “Dona Marisa sempre foi durona, exigente e reservada em relação a esse tipo de coisa. As pessoas falam você era de confiança, eu era de confiança sim, pra buscar um pão na padaria, comprar uma carne, levar cachorra no veterinário, buscar filho na escola, ou até mesmo o neto, isso era confiança”, completou Pimentel.
A defesa do ex-presidente Lula afirmou que o depoimento de Fernando Bittar não deixou qualquer dúvida de quem é o proprietário de fato e de direito do sítio. Os advogados declararam que ficou evidente que Lula não tinha conhecimento ou relação com as obras enquanto era presidente, e que as provas do processo não mostram relação entre as obras e contratos da Petrobras.
Os advogados do petista podem fazer qualquer declaração, até porque assumiram o compromisso de defender o cliente, mas negar o inegável e distorcer a realidade é impossível, já que os fatos são claros e as provas incontestáveis. Se o dono do imóvel afirma que imaginava que as despesas referentes à reforma seriam pagas por Lula, mas que na verdade foram bancadas pelas duas empreiteiras, uma nova condenação é questão de tempo.