Tudo certo, se estiver certo

(*) Carlos Brickmann

Paulo Guedes tem boa reputação, o general Augusto Heleno é muito bem visto nos setores em que atuou, Tereza Cristina é agrônoma e teve sucesso na agroindústria, Sérgio Moro é a estrela atual. E Ônix Lorenzoni é Ônix Lorenzoni – bem na hora em que precisaria se destacar.

As ideias e planos podem ser ótimos, mas têm de passar pelo Congresso. Talvez haja virgens na zona, mas não muitas. Quem atua no Congresso é profissional, goste-se ou não do que faça. O futuro Governo Bolsonaro já tomou duas bolas nas costas – o aumento dos ministros do Supremo, que deve custar de 4 a 6 bilhões de reais por ano, e novas isenções de impostos para a indústria automobilística – uns R$ 2 bilhões por ano. O coordenador de Bolsonaro na área parlamentar é Ônix – que, porém, não entrou no jogo.

Moro provavelmente não terá problema com o Congresso – parlamentar pode ser tudo, menos bobo, e sabe escolher e evitar adversários. Augusto Heleno é discreto, não deve forçar situações. Tereza Cristina conhece bem o Congresso, sabe mover-se. Mas Paulo Guedes fala bastante. E sua frase sobre “dar uma prensa” no Congresso ajudou Bolsonaro a levar a bola nas costas. É preciso compor com os parlamentares para montar a estrutura da política econômica. Ou Ônix cuida disso ou entra Bolsonaro em pessoa. E, ao negociar diretamente com o chefe, há gente cujas ambições crescem.

Sempre é melhor mandar outro negociar. Se não der certo, é só recuar.

Velhos mestres

Antes de 1964, dizia-se que a UDN, partido dos professores e bacharéis, era o partido burro das pessoas inteligentes. Seu maior adversário, o PSD, formado por mandachuvas dos Estados e políticos profissionais, era o partido inteligente das pessoas burras. O PSD ganhava quase todas. Nele se reuniam mestres da política. Uma de suas normas era primeiro combinar tudo e depois fazer a reunião e anunciar o resultado.

Língua solta? Jamais.

Sonho impossível

O reajuste do Supremo se estende, legalmente, ao Superior Tribunal de Justiça e a todos os magistrados do país. Como é o teto salarial dos salários do funcionalismo (isso para os que não conseguiram penduricalhos para furá-lo), mexe em todos os Estados. Os ministros do STF, desapegados, se ofereceram para desistir do tal auxílio-moradia, pouco mais de R$ 4 mil mensais. Para o colunista ninguém faz essa proposta: ganhe um monte de dinheiro aqui, sem problema, desde que deixe de ganhar um tiquinho ali.

Bola no mato

O presidente Temer tem poder para vetar o aumento. Com isso, faria um favorzão a Bolsonaro. Este colunista já viu até Haddad e Manuela d’Ávila comungando, mas jamais viu político tomar medidas, mesmo corretas, que beneficiem só outro político. E não consegue imaginar o presidente Temer, que encerra o mandato com dois processos criminais, enfrentando o STF para ficar de bem com a opinião pública.

Quem é que decide se Michel Temer, ao deixar o Governo, fica preso ou solto? A opinião pública?

Cadê o meu?

Bolsonaro deu aos militares demonstrações de admiração que há muito tempo não viam. Foi ao Ministério da Defesa, foi ao comando de cada uma das três Forças Armadas, escalou militares de prestígio para seu governo. E já lhe disseram que só apoiarão mudanças nas normas de previdência e de pensões se houver um reajuste caprichado em seus vencimentos.

Acelerando

A indústria automobilística, com todos os incentivos e renúncias fiscais, não gerou inovações nem na área em que o Brasil é uma potência e onde há grandes empresas que poderiam cooperar com as pesquisas: as alternativas renováveis ao combustível fóssil. Digamos, um motor híbrido em que a eletricidade seja gerada por álcool.

O Prius, desse tipo, que gera energia com gasolina, faz sucesso mundial. E os preços nacionais são altos: um carro médio feito aqui, com custo Brasil e tudo, exportado para o México (pagando transporte), sai lá por pouco mais da metade do preço brasileiro.

Parece absurdo. E é

Comentário de uma cientista política na TV, a respeito da proposta de Wilson Witzel, governador eleito do Rio, de ordenar à Polícia que atire para matar em qualquer pessoa que apareça portando ostensivamente fuzis em lugares públicos: “Os bandidos compram o fuzil porque são obrigados, para combater a segurança pública”. Se não houvesse polícia, se ninguém estivesse presente para atrapalhar os crimes dos distintos cavalheiros, eles não precisariam de fuzis.

O caro leitor viu como é simples desarmar os bandidos? Ah, sim: os fuzis também funcionam, nas áreas dominadas pelo crime, como moeda de troca. Deve ser coisa do capitalismo neoliberal.

Enfim, só

O PT desmontou o acampamento próximo à prisão de Lula.

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.