Nesta quarta-feira (14), em depoimento à juíza Gabriela Hardt, que substitui Sérgio Moro na 13ª Vara Federal de Curitiba, o ex-presidente Lula não fugiu à regra e manteve o discurso da inocência, negando qualquer vínculo com o sítio Santa Bárbara, em Atibaia (SP), foco da ação penal que pode levar o petista a nova condenação.
Durante o interrogatório, que durou quase três horas, Lula atacou a Operação Lava-Jato, em alguns momentos chegou a travar algumas discussões com a magistrada, mas negou ter recebido vantagens indevidas das empreiteiras Odebrecht e OAS, que executaram obras no polêmico sítio.
Sempre recorrendo à vitimização, Lula disse “eu me considero um troféu que a Lava-Jato precisava entregar. Eu disse ao juiz Moro que, pelo que aconteceu até agora, ele não teria outra alternativa a me condenar, declarou o petista ao final do depoimento, não sem antes tratar como farsa os processos a que responde.
O ex-presidente tem garantido o direito à livre manifestação do pensamento, mas seu discurso não coaduna com a realidade dos fatos, pois houve de sua parte o cometimento de crimes comuns, entre os quais o de corrupção e lavagem de dinheiro.
A questão central não está na propriedade do imóvel, registrada em nome de terceiros, mas nas obras realizadas por duas das maiores empreiteiras do País, avaliadas à época em R$ 1,02, milhão. A participação das empreiteiras na reforma do sítio compromete sobremaneira a situação do petista, mesmo que ele continue negando ter se beneficiado.
“Eu vou repetir: a chácara não era minha. Quem tinha que falar sobre obras na chácara era quem era dono”, afirmou. “O cara tem a propriedade, ele me emprestava a propriedade, e vou ficar perguntando o que fez ou não fez?”
Durante a audiência, a juíza esclareceu que a acusação contra Lula não é se ele era ou não proprietário de direito do sítio, mas se as obras realizadas no local foram feitas em seu benefício, com dinheiro desviado da Petrobras.
“Vocês me deram o testemunho: o sítio não é do seu Lula, graças a Deus”, disse o petista.
Gabriela Hardt respondeu: “Eu não falei isso. Eu falei que a acusação imposta ao senhor nesse processo não é [sobre a] propriedade do sítio. Não é disso que o senhor está sendo acusado”.
A juíza afirmou que Lula “não sabe do que está sendo acusado”. “Ele está se defendendo de uma coisa, e a acusação é outra”. O procurador Athayde Costa, do Ministério Público Federal, sugeriu que Lula procurasse um defensor público, caso entenda que há problemas na defesa.
É direito do réu negar as acusações que lhe faz o Ministério Público, mas é preciso modular a desfaçatez para que o ridículo não atente contra o óbvio. No depoimento, o ex-presidente negou que soubesse que as empreiteiras fizeram reformas no sítio e disse duvidar que a ex-primeira-dama Marisa Letícia, morta em 2017, tenha solicitado para que as empresas realizassem as obras no imóvel.
“Eu não acredito que a dona Marisa tivesse efetivamente relação para pedir para uma empresa fazer obra”, disse o petista.
Como mencionado acima, Lula pode alegar o que quiser, mas precisa lembrar que Marcelo Odebrecht, Emílio Odebrecht e Alexandrino Alencar, que firmaram acordo de colaboração premiada, prestaram confirmaram em juízo que a reforma no sítio de Atibaia foi uma maneira de compensar os benefícios obtidos pela empreiteira em contratos com a Petrobras.
Tanto é assim, que Marcelo Odebrecht, em depoimento, afirmou que em dado momento combinou com o então ministro Antonio Palocci Filho de descontar da conta “Italiano” o valor de R$ 15 milhões para compensar gastos relacionados a assuntos tratados entre seu pai (Emílio) e Lula.
Vale ressaltar que os delatores assumiram o compromisso de não faltar com a verdade. Ou seja, Lula está a caminho de nova e pesada condenação.