Ideologia cultural esquerdista

(Mamãe eu quero mamar)
(*) Ipojuca Pontes

Tipos como Cacá Diegues, o “sinhozinho” do cinema, viciado há quase cinco décadas no mamar sôfrego nas tetas da Viúva, costumam afirmar que “não existe cinema brasileiro sem ajuda do Estado”. E, com o apoio da mídia amestrada, 100% esquerdista, pressionam dia e noite governos perdulários, ignorantes ou coniventes sempre pedindo mais verbas públicas para produzir, distribuir e exibir filmes de orçamentos cada vez mais elevados e, de ordinário, sem retorno financeiro condizente. Um dos argumentos empregados, já puídos pelo tempo, é o de que, tanto no capitalismo liberal quanto no capitalismo de Estado, os governantes “investem em seus valores culturais para existir como nação”.

Bem, vamos por partes, como diria o Dr. Samuel Johnson (visto por Boswel). No caso particular do cinema brasileiro, totalmente subsidiado pelos cofres públicos, os “valores culturais” disseminados são, em sua maioria, derrisórios, em geral subordinados a conceitos falaciosos do “marxismo cultural” ou plasmados em cursos de cinema que reproduzem os padrões doutrinários o mais das vezes repassados pela indigente Escola de Cinema de San Antonio de los Baños, em Cuba – uma arapuca de encomenda para formar militantes empenhados em estabelecer a patranha do “socialismo tropical” abaixo da Linha do Equador.

Por sua vez, à margem o fato de que a nossa população repudia (em gênero, número e grau) esse tipo de cinema oficial que se faz hoje no País, na certa por não reconhecer nele os seus próprios valores, é preciso dizer alto e bom som, em particular aos novos governantes, que a coisa nem sempre funcionou assim. De maneira nenhuma!

Com efeito, desde a prodigiosa filmagem de Paschoal Segreto documentando, no final do século XIX a Baía de Guanabara, passando pela ação contínua de pioneiros como Antonio Leal, José Medina, Carmem Santos, Ademar Gonzaga até chegar aos filmes da Atlântica, Cinédia, Vera Cruz, Cinedistri, Herbert Richers e os ciclos dos filmes de cangaço, de carnaval, das chanchadas, das comédias eróticas etc. – tudo levou a marca de empresários que corriam riscos e que conquistaram o público para o cinema nacional sem as amarras do dinheiro fácil e corruptor do Estado e sua burocracia engajada.

Eis o fato: no histórico, com a confiabilidade e a força do mercado construíram-se estúdios e laboratórios, implantaram-se distribuidoras, sindicatos e uma vigorosa cadeia nacional de exibição com cerca de 4.200 salas para uma frequência que chegou a atingir cerca de 30 milhões de espectadores/ano. (Sem esquecer a conquista única da Palma de Ouro do Festival de Cannes levantada pelo “O Pagador de Promessas”, em 1962, produzido por um ex-porteiro de cinema, Oswaldo Massaini, e dirigido por um ex-galã de chanchadas, o competente Anselmo Duarte).

Tudo isso ocorreu em linha ascendente até o advento da desastrosa intervenção do Estado no cinema, a partir da criação da Embrafilme, em 1969, pela ação estatizante do falso estrategista Golbery do “colt” e Silva, general tido como o “mago da teoria da panela de pressão”, panaceia que consistia em entregar as universidades públicas e os espaços culturais do governo à esquerda gramsciana (enquanto combatia as guerrilhas rurais e urbanas). Nesta fase, para arrancar mais dinheiro dos cofres da estatal do cinema dirigida pelo comunista Celso Amorim e produzir filmes pífios e caluniosos como “Idade da Terra” ou “Pra Frente Brasil”, Glauber Rocha, baiano genioso que carregava o Cinema Novo-rico debaixo do sovaco, inventou que Golbery, então Chefe da Casa Civil do governo Geisel, era o “gênio da raça” ao lado – vejam só! -de Euclides da Cunha, Villa-Lobos e Rui Barbosa.

De lá pra cá, mesmo com o fechamento saneador da Embrafilme decretado pelo fraco e (acuado) Collor de Mello, as leis permissivas, concessões a fundo perdido e benesses de todo tipo só têm ampliado o buraco negro do desperdício do dinheiro público na área conflagrada, corrupta e aparelhada da cultura oficial que, como se sabe, aniquilou qualquer possibilidade de agentes privados investirem no setor.

Neste terreno pantanoso, diante da falência nacional, a manutenção de monstrengos tipo Lei Rouanet, Lei do Audiovisual, Fundo Setorial do Audiovisual etc., a dilapidar bilhões e bilhões de reais para oferecer regalias a corporações parasitárias é uma afronta, ou melhor, um atentado ao contribuinte e à população brasileira carente de condições básicas como comer, habitar e caminhar com segurança pelas ruas.

Soube que o deputado Osmar Terra, de MDB, futuro Ministro da Cidadania (onde foram alojadas as pastas do Desenvolvimento Social, Esportes e Cultura), defendeu o uso do “pente fino” para levantar os “desvios” da Lei Rouanet e, por extensão, os “malfeitos” de leis amparadas por bilionárias e isenções fiscais e subsídios, entre elas, por exemplo, a onerosa Lei do Audiovisual.

É pouco, muito pouco mesmo. Esses incentivos perdulários, além de incontroláveis, são socialmente irresponsáveis e economicamente doentios. Como ex-titular da pasta da Secretaria Nacional da Cultura, digo que eles apenas acarretam a apropriação pelo privado de qualquer tipo de lucros e a socialização do prejuízo pela sociedade. No reino de uma atividade que só pensa na mamação, o correto é estabelecer critérios rigorosos, voltados prioritariamente para cuidar de museus, bibliotecas, acervos do patrimônio histórico, etc. – em suma, os verdadeiros bens públicos.

Voltaremos ao assunto mas, antes de concluir, lembro ao deputado Osmar Serra que, recentemente, falando para representes dos principais setores da indústria, na sede do BNDES-Rio, Paulo Guedes, ministro da Economia, foi curto e objetivo: “Quem está acostumado com subsídio vai ter de aprender a viver sem”.

Correto, corretíssimo!

Até.

(*) Ipojuca Pontes, ex-secretário nacional da Cultura, é cineasta, destacado documentarista do cinema nacional, jornalista, escritor, cronista e um dos grandes pensadores brasileiros de todos os tempos.